Como uma espécie de consolação, Alegre acrescenta: «Por mim, fico contente que no meu lugar vá um representante do Bloco de Esquerda ou do PCP». Aí é que ele se engana. Com a entrada automática no Conselho de Estado de António Costa e Ferro Rodrigues, por inerência dos cargos que assumiram, o PS podia bem ceder dois lugares ao BE e ao PCP. Ainda lhe sobrava um: o, até agora, ocupado por Manuel Alegre. Mas, entre Alegre e César, Costa prefere César. Ou César invocou o seu atual estatuto no PS para forçar Costa a nomeá-lo, o que vai dar no mesmo.
Estranha, também, é a importância que António Costa atribui ao Conselho de Estado – um órgão simbólico de representação política e de mero aconselhamento do PR, que verdadeiramente pouco ou nada decide – ao ponto de infligir esta desconsideração pública a um histórico do partido como Alegre.
Acresce que o PS está mais do que representado nos 19 membros do CE: além de Costa e Ferro, tem lá dois ex-PR, o presidente do TC, o do governo regional dos Açores e outras figuras da sua área política – e ainda os três nomes de esquerda que agora vão entrar. Para quê, então, a necessidade de trocar um dos símbolos mais representativos da esquerda e do PS, um nome maior da cultura e da literatura portuguesas, um combatente socialista de antes e depois do 25 de Abril, por um apparatchik partidário, que apenas se destacou na governação dos Açores e no incontinente desrespeito ao Presidente da República?
Compreende-se que, com uma periclitante sustentação no poder, o tempo político de António Costa não está para poetas e devaneios. Mas sim para capatazes e disciplinada obediência à autoridade. César, his master’s voice, é naturalmente o eleito.