Com o fim da Tabu o B.I. passa a ser o suplemento do SOL, continuando a sair ao sábado. Foi com tudo isto em mente – e com o sofrimento que marcou estas últimas semanas – que parti para Maputo, numa viagem de trabalho há muito programada. Uma viagem que, no momento de embarque, me soou a fuga.
Mas a distância tem destas coisas. Permite-nos ver melhor, quase como se de uma grande angular se tratasse. Com isto não quero obviamente dizer que há algo positivo numa restruturação que ditou o despedimento de tanta gente. Mas quero dizer, isso sim, que vezes demais nos deixamos engolir pela revolta e pela desilusão. E esquecemo-nos de sorrir. Como se fosse o fim do mundo. E o fim é mesmo só um, esse lugar-comum: a morte. Por duas noites seguidas, em Maputo, vi os mesmos dois miúdos, não teriam mais de dez anos, à porta da Fortaleza, já passava das quatro da manhã. Estavam a pedir dinheiro, juntamente com uns amigos que vendiam tabaco e chips, enquanto eu saía de uma concorrida festa. Quando lhes perguntei se não iam dormir, responderam-me apenas: “Ainda”. E abriram um sorriso do tamanho do mundo. Não sei se teriam casa onde dormir, roupa lavada notoriamente não tinham. Mas tinham sorrisos. O mesmo sorriso que nós, por vezes, nos esquecemos de ter. E de oferecer aos outros. A vida é dura. É uma merda, às vezes. É mesmo. Mas há sempre dois caminhos: deixarmo-nos vencer pelas adversidades ou tentarmos vencê-las. E sorrir. Sempre. Aos que foram e aos que ficaram por aqui: espero que saibamos todos continuar a sorrir. E a si, leitor, espero que nos acompanhe nesta nova viagem que agora começa. Prometo que este B.I. continuará a não ter tabus.