“Por norma não sou inflexível. Fui educada por um pai rigorosíssimo e por uma mãe muito à frente do seu tempo. A caldear a mistura explosiva, tive uns avós que souberam sempre mostrar-me o lado positivo de tal nascimento. Resultado, tenho muito poucas certezas absolutas, mas as que possuo, acompanham-me de forma consciente há cerca de 50 anos”, começou por escrever Helena Sacadura Cabral.
A mãe de Paulo Porta diz que uma dessas certezas é a “pouca simpatia” que sente pela vida partidária e a “mágoa” de nela ter tido os dois filhos. “Sabia – as mães sabem sempre – que essa via os impediria de terem uma vida familiar feliz. Um decidiu, sem sucesso, experimenta-la. O outro não”.
Helena Sacadura Cabral começa por falar no caso de Miguel Portas, que morreu em 2012.
Quando olho os meus netos penso como teria sido bom que eles tivessem podido ter conhecido melhor o pai deles e como isso, na altura, lhes fez tanta falta e tanto os teria enriquecido. Foi tarde demais que o Miguel o percebeu, apesar de, nos dois últimos anos do seu caminho, ter tentado superar-se nesse campo”.
“Disse muitas vezes que o grande pesar da minha vida tinha a ver com a opção que ambos haviam feito. E, confesso, nunca tive esperança de ter a alegria de os ver seguir o exemplo paterno, cujo compromisso político se foi esbatendo com o tempo. Não no pensamento ou ideologia, julgo eu, mas na praxis da vida quotidiana”.
Helena Sacadura Cabral termina o seu texto com um desabafo: “Deus compensou-me e permitiu que, em vida, eu pudesse ter esse conforto. E hoje pude passar um dia tranquilo, sem ler ou ouvir as barbaridades de ódio que, por certo se terão dito, no meio de alguns elogios que, acredito, outros possam ter feito. Esse é o mundo da política. Que, espero, passados uns meses, já não faça mais parte do meu”.