Nem aliança republicana entre a direita e o centro esquerda, nem um assalto à portuguesa com a esquerda aliada a independentistas – os grandes partidos de Espanha, quatro desde as eleições de 20 de dezembro, não parecem capazes de fugir ao cenário de novas eleições. E um deles deve mudar de rosto caso a nova ida às urnas seja confirmada.
O PSOE de Pedro Sánchez tem nas mãos as chaves do poder. O popular Mariano Rajoy promete-lhe um «diálogo generoso» caso abra as portas a uma grande coligação ao centro que lhe garanta a manutenção como chefe do Governo. À esquerda, o Podemos oferece-lhe a possibilidade de combater a austeridade, mas essa maioria precisava da presença de partidos independentistas de várias regiões, que por sua vez estão pouco interessados em chegar ao poder em Madrid.
A primeira hipótese colocaria o líder socialista no arco da governação, mas também do lado da austeridade. Se já teve o pior resultado eleitoral da história graças à sua participação na crise, os riscos de perder mais votos para o Podemos e para outras forças de protesto seria cada vez maior.
Mas tomar o poder com um Podemos refém das suas forças regionais – incluindo Catalunha e País Basco – é correr o risco de perder a unidade de Espanha num momento de crise social que dá gás aos vários movimentos nacionalistas.
Encostadoàs cordas no panorama nacional, Sánchez vê a sua situação deteriorar-se também dentro do partido. Os barões regionais não lhe perdoam o mau resultado e querem marcar o mais rapidamente um Congresso que debata a hipótese de mudança de líder. Na Andaluzia, Susana Díaz já prepara o salto para Madrid.
Talvez por isso, apesar de continuar a rejeitar qualquer um dos cenários que tem à disposição, o líder socialista mantém que a sua «última opção» será concordar com a repetição do sufrágio.
Sobre as «linhas vermelhas» do Podemos, incluindo o referendo independentista na Catalunha, Sánchez diz estar disposto a «estender pontes de diálogo», embora garanta que não porá em causa a «integridade territorial de Espanha». Para já, é hora «da primeira força política tentar formar Governo» e só depois do PP desistir de formar uma maioria Sánchez anunciará o seu plano. Já Rajoy está em condições de afirmar que será o candidato do PP em novas eleições, embora ainda acredite numa solução entre os «grandes partidos constitucionalistas».
Essa é também a aposta de Albert Rivera, o líder do Ciudadanos, que foi o quarto mais votado. Mais conformado com a «aritmética diabólica» referida pelo catalão Antonio Baños, está Pablo Iglésias: o líder do Podemos, que tem 69 deputados, diz que se não deixarem Sánchez assumir o Governo «talvez seja a hora de uma figura independente de prestígio avançar».