O meu Euromilhões tem forma de tempo

   

Não prometi deixar de fumar, porque não fumo. Não jurei ter uma alimentação mais saudável, porque na verdade não cometo assim tantos pecados. Já desisti de prometer que iria frequentar o ginásio – já percebi que essa coisa do exercise rush não me assiste desde que deixei de fazer ballet e provavelmente nunca mais voltará a assistir. Não fiz nenhuma das mais comuns promessas associadas ao final de ano.

Mas fiz pedidos. Acho que é inevitável. Sou apenas uma comum mortal. Pedi saúde, que há muito aprendi que nada é mais importante. E pedi para continuar rodeada daqueles que me rodeiam e que amo, e que fazem de mim tão melhor do que aquilo que sou. E claro que não me importava nada de ganhar o Euromilhões. Uma Raspadinha também serviria. Ainda assim, para ser totalmente sincera, o maior Euromilhões ou Raspadinha que este novo ano me poderia dar é tempo. Tempo e capacidade para me organizar nesse tempo. Em 2016 quero ter tempo para viajar, tempo para ir para a rua ver a vida passar. Tempo para ir ao cinema e a concertos. Tempo para, pura e simplesmente, não fazer nada sem que isso me pese na consciência como se estivesse a cometer um pecado digno de prisão perpétua. Quero olhar menos para o relógio e quero ter de andar menos a correr e com a sensação de que estou mais atrasada que o Coelho Branco da “Alice no País das Maravilhas”.

Mas acima de tudo isto, o que quero mesmo, mesmo, mesmo, é ter tempo para conseguir atender sempre o telefone à família e aos amigos. E nunca os despachar com um “já ligo” que acaba por nunca mais acontecer. Quero ter tempo para os ouvir e para lhes contar as novidades. E não quero continuar a sentir o peso na consciência de que não estive lá. Acho que toda gente ganha quando temos tempo uns para os outros. Mas tempo de verdade. Daqui a um ano encontramo-nos por aqui para um balanço. Entretanto só me resta mesmo dizer: adeus 2015, olá 2016. Feliz ano novo!