Obama: E antes do adeus?

Dois depois de chegar à Casa Branca, em janeiro de 2009, Barack Obama assinava o decreto presidencial que representava o princípio do fim de Guantánamo – a base militar em Cuba que envergonhara os EUA nos anos anteriores com histórias macabras de torturas a suspeitos de terrorismo.

Em novembro do ano passado, depois do Estado Islâmico (EI) ter chocado o mundo com um ataque coordenado que fez mais de 130 mortos em Paris, Obama lembrou que “Guantánamo continua a ser uma enorme ferramenta de recrutamento para organizações como o EI, como forma de racionalizar e justificar a sua demente perpetração de violência sob inocentes”. E, como tal, “a segurança dos EUA aumentará se Guantánamo fechar”.

Os críticos dizem que Guantánamo simboliza Obama no seu todo – muita parra (palavras fortes, decisões mediáticas, fotos históricas) e pouca uva (ainda há terroristas na base cubana). Mas o episódio, nos seus detalhes, tem um pouco de tudo o que foi a presidência do homem que entra agora no último de oito anos na Casa Branca.

Por um lado, foi o primeiro choque do antigo senador do Illinois com a realidade. Quatro meses depois de assinar o decreto, o Senado – então ainda controlado pelos ‘seus’ democratas – votou esmagadoramente para proibir o recurso a financiamento público para a transferência de prisioneiros. Depois das intercalares de 2010, quando os republicanos recuperaram a maioria na Câmara dos Representantes, os congressistas incluíram a proibição de recolocar detidos em território norte-americano numa lei de financiamento militar que Obama estava desesperado para assinar.

Novo decreto para resolver Guantánamo?

Nos restantes anos de avanços e recuos, Obama conseguiu que o número de detidos baixasse dos 241 que tinha ao tomar posse para 107 em novembro do ano passado.

Com um ano pela frente, é certo que o número será mais reduzido. Mas para que não se fique apenas por parte da “mudança” prometida em 2008, Obama pode ainda recorrer a um decreto presidencial que encerre Guantánamo em definitivo.

Foi isso que fez esta semana com a discussão sobre o direito à posse de armas – assunto relembrado 162 vezes durante os seus mandatos. É esse o número que faz de Obama o Presidente que mais tiroteios públicos teve de enfrentar na história dos EUA. O registo do FBI, que inclui todos os incidentes com pelo menos quatro vítimas, indica que George W. Bush apenas lidou com 20 em oito anos. Dos 162 dos primeiros sete anos de Obama, cinco tiveram oito ou mais vítimas mortais.

Depois de mostrar raiva, frustração e determinação para resolver o problema, Obama desistiu de negociar com os congressistas. Na terça-feira anunciou que os comerciantes de armas terão o seu processo de licenciamento dificultado. E os compradores serão obrigados a passar por um processo de controlo de antecedentes penais para poder obter uma arma. “O lóbi do armamento pode ter atualmente o Congresso como refém, mas não poderão fazer da América refém”, disse um emocionado Obama ao anunciar um pacote “modesto” de medidas.

A sua relação com os legisladores de Washington desde cedo se revelou o calcanhar de Aquiles de um homem que chegou ao poder a prometer acabar com a luta partidária. Mesmo entre as reformas que prometeu e realizou – com a Obamacare na Saúde como expoente máximo – Obama teve de recorrer a todos os mecanismos parlamentares para evitar o bloqueio republicano. E este ainda dura, pois em novembro a maioria republicana aboliu um imposto que Obama criara para financiar parte da reforma que alargou o acesso a seguros de saúde a 11,3 milhões de norte-americanos.

O mesmo aconteceu com outros sucessos como a redução da dependência do país de petróleo externo – o país passou a produzir mais energia, incluindo uma fatia importante em fontes renováveis -, a reforma na Educação (onde retirou aos privados o financiamento de milhões de bolsas) ou medidas mais concretas como a inclusão de homossexuais e mulheres nas forças militares do país. A injeção de 819 mil milhões de dólares na economia – medida com que em 2009 enfrentou a crise que herdara de Bush – não contou com um único voto republicano. O casamento entre homossexuais foi tema que só acabou resolvido nos tribunais.

Até 20 de janeiro de 2017, faltam 377 dias. Será tempo suficiente para encerrar Guantánamo?