Diga connosco em alto e bom som: David Bowie. Se a sua língua não dobrou, se não se entusiasmou sem reparar, se algo como “este senhor é o maior” não lhe passou pela cabeça, estamos mal. Ai estamos, estamos. Não é que a nossa relação termine aqui, estimado leitor, o que lhe pedimos é que encare este primeiro parágrafo como um raspanete da mamã, daqueles sem gritos, entre adultos, mas nem por isso menos necessário.
É que David Bowie não pode ser confundido com aquela tia amorfa que gera controvérsia no seio familiar, aquela que há quem adore tanto como há quem odeie. David Bowie é o avô-pai-tio que ocupa a poltrona de 1898 de charuto na boca. Atenção, não que que carregue às costas uma ponderação extrema, uma sapiência que herdou da idade, nada disso. Assume, antes, o papel irreverente e intelectual que ninguém coloca em cheque. Coisa que talvez não tenha lugar em nenhum lar português – ou até mundial. Nada de estranho, falamos de Bowie – não sei se já tínhamos dito – um génio que ontem, no dia em que comemorou 69 anos, editou o seu vigésimo quinto disco, “Blackstar”. A mamã já se calou. Siga a dança.
Nem sempre que à frase “aceita uma dança?” se segue uma valsa.Troquemos a ordem e começamos pelo fim. “Blackstar”, o single e faixa-título, foi editado a 20 de Novembro de 2015, a notícia por que todos esperávamos.
O teledisco denunciava que este camaleão não mudou nem um pedaço.Talvez tenha mudado, talvez o britânico já não queira ser Ziggy Stardust nem vestir roupa de mulher, porém, a sua música continua a fazer estalar verniz.
Nove minutos e cinquenta e sete segundos, é o tempo da canção. Só se suporta – e aceita – algo deste tamanho porque… exato, adivinhou, é Bowie. E se este “Blackstar” está algures entre influências jazzísticas e rockeiras, a verdade é que o britânico sempre foi, sempre será, um símbolo da cultura popular, um ícone pop. E isso, como se sabe, não acontece por fazer twerk ou fumar charros em palco. Bowie é pop da distinta. Da melhor.