De Kisangani para Lisboa

Lisboa não é uma cidade estranha para Faustin Linyekula. Foi aqui que gozou as primeiras férias da sua vida, no ano de 2002. Nessa altura, ao aterrar no aeroporto da Portela, deparou-se com o antigo avião do presidente Mobutu abandonado. E sentiu que o seu Congo e este país que visitava então pela primeira vez…

O bailarino e coreógrafo congolês regressa agora a esta segunda casa como protagonista da bienal Artista na Cidade, seguindo-se a Anne Teresa de Keersmaeker e Tim Etchells.

Consigo, o criador dos Studios Kabako traz uma abordagem às artes performativas na qual corpo e história são indissociáveis. Faustin Linyekula é um criador com uma agenda – muitas vez politizada – e com uma mensagem. Mas a forma como tudo isso se traduz em palco é profundamente emocional e visceral. O congolês é um contador de histórias: da sua história, da história do seu país e do mundo, até porque nenhum país vive isolado. Essa noção de diálogo, de parceria, de interligação fica clara logo no espetáculo que marca o arranque desta bienal.

Clássicos e novidades

Faustin Linyekula criou Portrait Series: I Miguel especificamente para Miguel Ramalho, bailarino da Companhia Nacional de Bailado. Com estreia a 14 de janeiro e em cena até dia 24, no Teatro Camões, este solo, interpretado com música ao vivo do percussionista Pedro Carneiro, foi desenvolvido entre Kisangani e Lisboa, num exercício que é mais uma prova dos laços que unem o Congo a Portugal. E ao resto do mundo.

Ao longo deste ano, a presença de Faustin Linyekula far-se-á sentir nas principais salas de espetáculo da capital, com obras inéditas bem como reposições de obras clássicas do congolês. Além de iniciativas novas para a programação desta bienal – como é o caso de um espetáculo de rua durante as Festas de Lisboa, em junho, e uma criação com finalistas da Escola Superior de Teatro e Cinema, em julho – será possível ver, ou rever, obras como Sur Les Traces de Dinozord e The Dialogue Series: IV. Moya (ambos em junho), Le Festival des Mensonges (outubro), e More More More… Future (novembro).

Destas, impossível não destacar a reposição, depois da passagem pelo Festival Alkantara, em 2014, da peça Le Cargo, uma espécie de súmula emocional das questões que movem Linyekula. Um solo que será apresentado várias vezes ao longo do ano, sempre em bairros multiculturais da Grande Lisboa – começando pela Cova Moura, a 24 de janeiro.