Editorial B.I: Era hora de enfrentar a tua morte

Quando morre alguém, quando assistimos à forma como alguém enfrenta a dor e a perda, há sempre quem se sinta no direito de julgar. Ou porque choram de mais, ou porque não choram, ou porque vestem preto, ou porque, pelo contrário, vestem o que bem lhes apetecer.

Se choram muito são uns histéricos, se não choram é porque não gostavam assim tanto da pessoa que morreu. Há sempre alguém prontinho a apontar o dedo. Como se alguém tivesse o direito de julgar a maneira como sofremos. Como vivemos a morte. Como se houvesse um manual sobre como lidar com a morte.

A verdade é que não há. E ninguém tem o direito de julgar a forma como o fazemos. Têm o direito, isso sim, de ajudar os que ficam, de os tentar auxiliar a enfrentar o sofrimento, lamber as feridas e recuperar a normalidade – possível – da vida. Quem nos rodeia – e gosta de nós – tem esse direito (ou dever?).

Tal como tem o direito (ou dever?) de nos secar as lágrimas, quando elas existem, e de nos dar um abraço, mesmo quando ainda nem nos apercebemos que precisamos. E quem nos rodeia tem o difícil direito (ou dever?) de nos obrigar a enfrentar a verdade, por muito dura que ela seja.

A minha avó materna morreu em 2008. Não era uma avó qualquer. Era a minha avó do coração, que me mostrou o que é ser uma mulher de garra. Uma mulher que enfrentou todas as adversidades nunca permitindo que a vida a amargasse. Antes pelo contrário, uma mulher doce, que tantas vezes me permitiu encostar a cabeça no seu colo sem me fazer uma única pergunta.

Desde 2008 é rara a semana que não me recorde dela, da minha Alice. Mas nunca tinha entrado no cemitério desde o seu funeral. Até esta semana. Não foi fácil, mas era algo que há muito devia ter feito. Nunca queremos enfrentar certas realidades, mas a morte faz parte da nossa vida. E não há como negá-lo.

PS: Obrigada por me teres levado a enfrentar a verdade.