A política da União Soviética e do Partido Comunista soviético, já então totalmente dominado por Estaline, defendia que, sendo a luta de classes a base da História e havendo só duas classes sociais – a burguesia e o proletariado –, todas as forças políticas deviam ser a elas reconduzidas. Assim, fenómenos como o fascismo italiano e até os regimes autoritários e ditatoriais militares aparecidos nos anos vinte em Espanha e em Portugal, na Polónia e na Hungria, foram considerados meros instrumentos da burguesia e como tal tratados.
Do mesmo modo, os partidos sociais-democratas passaram a ‘sociais-fascistas’, tornando-se, se não inimigos principais, pelo menos tão inimigos como os outros. Estaline e o Komintern impuseram esta versão aos partidos da III Internacional.
Só os acontecimentos na Alemanha e a ascensão de Hitler ao poder em Janeiro de 1933, na sequência da vitória eleitoral do ano anterior, começaram a levantar algumas dúvidas sobre a justeza desta perceção e desta estratégia – embora se mantivesse a ideia, entre os responsáveis ‘internacionalistas’, de que as massas populares alemãs, devidamente enquadradas pelo Partido Comunista de Thälman, iriam passar à resistência e realizar a Revolução que falhara na década anterior.
Mas não. Em poucos meses, Hitler neutralizava o Partido Comunista e, aliás, todos os outros partidos… E, pior, dava-se uma rápida passagem de muitos militantes e eleitores comunistas e socialistas para os vencedores.
Estes factos e os acontecimentos de 6 de Fevereiro de 1934, com o risco de uma ‘fascistização’ da própria França, vão ser decisivos para a mudança de estratégia. Perante semelhante risco, as bases comunistas e socialistas francesas avançam para a unidade na greve geral.
Estaline, que olhava os acontecimentos da Alemanha como um fenómeno geopolítico em que o revisionismo hitleriano se viraria contra as potências ocidentais, repensava a antiga classificação e pensava a nova estratégia. Giorgi Dimitrov, o comunista búlgaro que o processo do incêndio do Reichstag tornaria famoso, fora libertado e Estaline fazia dele secretário-geral do Komintern.
Apartir daqui, o antifascismo passaria a ser a base da estratégia dos comunistas europeus, que aceitariam alianças com os partidos burgueses, nomeadamente em Espanha e em França.
Às vezes, a teoria não resiste aos imperativos da realidade.