Natal e Bolo Rei

Até podemos seguir Paulo de Carvalho, nas suas excelentes intenções, e dizer que o Natal é quando um homem quiser. Só que há datas definidas. E o Natal que celebramos foi-nos doado pelo cristianismo, segundo calendários definidos há muito pelo Imperador Constantino, o tal que adotou a religião católica no Império Romano.

Calha mesmo a 25 de dezembro, sendo o seu auge na noite de 24, quando se celebra a Missa do Galo (defendida pela doutrina desde o Papa Gregório I, 590-604 DC, e não estou a falar da Missa de Natal com presépio, mais tarde celebrizada por São Francisco). E daí a importância em Portugal do chamado jantar de Consoada, a 24, normalmente de bacalhau com couves.

Mas há dias ouvi o cardeal D. Manuel Clemente dizer que o dia de Reis e a Epifania são fundamentais no Natal. Segundo esta teoria, deveria celebrar-se o Natal cristão e católico, com presépios e decorações específicas, entre o 1º Domingo do Advento (que, este ano, calhou ainda em finais de Novembro), e o 1º Domingo pós Epifania (o último). A epifania, como o nome indica, é uma revelação, a de Jesus aos Reis Magos. Eu sigo os ensinamentos que recebi de família, mantendo as decorações de Natal entre o dia de Nª Srª da Conceição (8 de Dezembro) o o de Reis (6 de Janeiro).

De facto, o dia dos Reis é celebrado com maior intensidade em Espanha (onde vivi 14 anos) e pelos ortodoxos (que não adotaram o calendário gregoriano, do Papa GregórioXIII, em 1582). Mas, enquanto em Espanha, a noite maior, e a dos presentes, é a de 5 para 6 de janeiro, os ortodoxos celebram-na na seguinte (de 6 para 7).Claro que a data do nascimento é para todos a de 25 de dezembro, só que relativamente secundarizada.

Embora a festa seja genuinamente cristã, o mundo ficou com ela, tal e qual definida pelos cristãos, mas como Dia da Família. E cá temos, em Portugal, o nosso Bolo Rei a celebrar estas festas (noutros países haverá bolos parecidos, como o ‘roscón’ espanhol).

Podem-se fazer concursos à vontade para apurar qual será o melhor Bolo Rei. E normalmente até concorrem alguns Bolos meritórios, mas penso que nunca os melhores.

Pois para mim, embora distanciando-me na medida em que não o aprecio tanto, os melhores são o original, o da Confeitaria Nacional, cujo proprietário, Baltazar Castanheiro, o ‘inventou’ no século passado com grande inspiração francesa (e o seu sucessor atual, Rui Castanheiro Viana, o mantém intocado) e a sua melhor réplica, da Garrett do Estoril.

A atestar a qualidade do da Confeitaria, aí temos as bichas para o comprar, mesmo depois de a casa ter aberto os quiosques Baltazar nos centros comerciais, que também o vendem com bichas bem menores. De resto, tudo o que se faz na Confeitaria éfantástico, como se pode ver pelos seus extraordinários pastéis de nata, de que sou muito mais apreciador.

Da Garrett podemos dizer coisas muito semelhantes: tudo o que lá se faz, incluindo os tais pastéis de nata, é magnífico.