Já não compreendo os que se opõem ao horário de trabalho semanal da Função Pública de 35 horas, com o argumento de que se estão a privilegiar os trabalhadores do Estado relativamente à iniciativa privada. Soa-me a argumento falso, próprio do anterior Governo, e em choque com os partidos históricos que o sustentavam, PSD e CDS. Porque com a evolução tecnológica e o puxar da produtividade para níveis máximos, só uma redução de horários de trabalho é compatível com o emprego. E já se sabe que os empresários sempre se alarmaram e contrariaram diminuições dos horários de trabalho, desde que podiam fazer os seus trabalhadores laborar sem descanso, até às 40 ou 42 horas semanais mais habitualmente em vigor nos últimos tempos. De resto, esses mesmos empresários também não aceitavam baixas por doença, achando que não se devia pagar a pessoas por não trabalharem. As mentalidades mudaram muito. E também é preciso que mudem nisto do horário de trabalho. Porque a crise económica que vivemos não se deve aos horários de trabalho diminuídos (por cá, até aumentaram muito, com a ideia de que os direitos adquiridos só deviam valer para os patrões, e nunca para os empregados), mas à mais pura especulação capitalista, a que foi necessário acorrer com o dinheiro dos contribuintes – essencialmente trabalhadores. Porque já se sabe que quem paga mais impostos são mesmo os trabalhadores, seguidos pelas empresas que criam riqueza. Em último lugar vêm os especuladores, tratados com pinças pelos políticos de vários quadrantes políticos e geográficos. Ao ponto de alguns comentadores mais conservadores, defendendo o Banco de Portugal no caso BES, se terem interrogado se os investidores na Banca afinal eram todos tão pobrezinhos e merecedores da ajuda dos contribuintes como os noticiários acabam por dar a entender.
E não deverão os empresários recompensar o Estado pelo aumento da produtividade dos trabalhadores, apesar da incompetência de muitas gestões? Dado curioso que vi outro dia: ao contrário do que muitos pensam, os EUA não estão no topo da tabela mundial de produtividade, nem sequer muito perto desse topo. Conclusão: a indiferença social de que a Europa se tem alheado e distanciados dos EUA nem sequer é uma grande garantia económica: só egoísta e antieuropeia.