O que levou a que, no caso do BES, a fatura de 4.900 milhões recaísse sobre os outros bancos e instituições financeiras que integram o fundo de resolução e, no caso do Banif, ao invés, esses mesmos bancos fossem poupados e os 3 mil milhões saíssem dos depauperados cofres públicos e dos bolsos dos sacrificados contribuintes? Se a legislação europeia que entrava em vigor a 1 de janeiro de 2016 exclui destas resoluções bancárias qualquer ónus aos contribuintes porquê fazê-los pagar tão pesado tributo uma semana antes? Eram estas, as perguntas que ficavam no ar.
António Costa não lhes respondeu, passou-lhes ao lado, na sua comunicação ao país de 20 de dezembro sobre o Banif. Tal como nada esclareceu três dias depois, ao ser votado na AR o Orçamento retificativo do Banif, que só passou graças à salvadora abstenção do PSD.
Mas eis que, passadas duas semanas, Costa foi à Quadratura do Círculo revelar que “o fundo de resolução estava esgotado com a operação do BES” e que este “não só não tinha dinheiro como o sistema financeiro não estava em condições de assumir nos seus balanços um novo empréstimo do Estado ao fundo de resolução”. Ou seja, o fundo de resolução, obrigatório de acordo com a legislação de Bruxelas, é em Portugal uma ficção para ingénuos. BCP, CGD, Santander, BPI e etc. não têm capacidade para o sustentar – e nem sequer para colocarem mais dinheiro no sistema de resolução.
Se houver alguma outra instituição bancária em risco de falência, já sabemos que António Costa e Mário Centeno não se irão virar para a banca portuguesa. Mas, uma vez mais, para os contribuintes – que podem aguentar sempre todas as faturas. Não deixa de ser irónico que esta opção, que se diria ser típica da direita liberal, venha de um Governo socialista apoiado pelas esquerdas radicais. Estamos sempre a ser surpreendidos.