As circunstâncias exatas deste crime ainda não são conhecidas. Aliás, muito do que foi a primeira leitura dos factos parece agora não ter sido propriamente correta, não tendo sido um ato concertado, mas envolvendo, pelo menos entre os suspeitos já identificados, requerentes de asilo – uma situação que já levou a chanceler Angela Merkel a endurecer o seu discurso em relação à expulsão de refugiados da Alemanha.
Mas independentemente dos contornos exatos deste crime, o que não parece ser possível negar é que de facto aconteceu um crime: mulheres foram violadas.
E o que também não parece ser possível apagar – pelo menos, não da minha cabeça – são as palavras da presidente
da Câmara de Colónia. Segundo Henriette Reker, o truque para não sermos violadas é mantermo-nos longe de homens que não conhecemos. Especificamente, a um braço de distância. “As mulheres deveriam ser espertas e não andar
a abraçar todas as pessoas que conhecem e parecem simpáticas. Esses atos podem ser mal entendidos e isso é algo de que todas as mulheres e todas as raparigas se deviam proteger”, disse.
Está tudo errado aqui. Não sou eu, não somos nós, mulheres, que temos de evitar ser violadas. Não somos nós que não podemos usar uma minissaia ou um decote mais profundo porque com isso estamos a emitir sinais perversos de um secreto desejo de sermos violadas. Não vivemos nem nunca deveríamos ter vivido numa sociedade onde a mulher pode ser objetificada ao ponto de ter de ser ela a preocupar-se em não se pôr
a jeito para ser violada. Uma mulher, de minissaia, decote profundo, até completamente embriagada, continua a ser uma mulher que pode dizer não.
E o seu “não” é tão valioso como o “não” de um homem.