Nesta terça-feira – depois da reunião semanal de coordenação política que António Costa faz em S. Bento e onde se deve ter reconhecido que o Governo falhou em matéria de explicações públicas e que é preciso combater a ideia de que o Executivo anda entretido em experimentalismos –, Tiago Brandão Rodrigues foi enviado para uma conferência de imprensa.
Aí, tentou contrariar a ideia de que o líder da Fenprof se tornou uma espécie de 18.º ministro, justificou por que acabou com os exames do 4.º e do 6º anos a Português e a Matemática e introduziu provas de aferição (testes nacionais sem peso na nota final, apenas para analisar o cumprimento de metas curriculares) no 2.º, 5.º e 8.º anos, quando o ano letivo já vai a meio.
Tentou ainda convencer-nos de que o Governo tem um pensamento sustentado sobre a matéria: «O modelo dos exames não estava só errado, era acima de tudo nocivo. Treinar para os exames é pernicioso e nocivo. Estas mudanças estão cimentadas em estudos nacionais e internacionais», e o Governo quer uma «escola inclusiva», por oposição à «escola seletiva» dos exames.
Mas é nocivo porquê? Por que sim? Convinha que o ministro dissesse quais são os estudos e as pessoas em que se baseou. Isto porque quem ler o parecer do Conselho Nacional de Educação (cnedu.pt) encontra citações de estudos nacionais e internacionais, além de inquéritos a dirigentes e professores que concluem o contrário – nomeadamente, que os exames foram determinantes para melhorar o ensino e a avaliação das escolas, que «é residual» (0,4% a 1,9%) o número de alunos que chumbam por causa dos exames.
E esses estudos dizem ainda que, ao contrário dos exames, «as provas de aferição nunca suscitaram o empenho dos atores educativos» – ou seja, como não contam para a nota ninguém os leva a sério.
No desastroso comunicado de há uma semana, o ministro fez mais um anúncio: «Os resultados das provas de aferição serão devolvidos às escolas, para análise, e transmitidos aos encarregados de educação e aos alunos através de uma Ficha Individual do Aluno. A Ficha Individual do Aluno constitui-se como suporte das estratégias diferenciadas que integrarão a prática letiva subsequente, em complemento de todos os dados gerados pela avaliação interna».
Continua a ser mais fácil aprender mandarim do que perceber o ‘eduquês’ da 5 de outubro. Tudo isto vindo de um Governo socialista, 16 anos depois de um outro Governo socialista (Guterres, em 2000) ter introduzido o modelo que agora se reduz quase a pó, é obra. E cuidado, que a ficha do aluno é capaz de ser nociva e perniciosa.