Megan (nome fictício) explica que tudo começou durante umas férias com a mãe, na Grécia. Na altura, tinha 14 anos. Numa noite, num bar de praia, conheceu um jovem albanês de nome Jak, e rapidamente se apaixonou. Vinda de uma família disfuncional – ambos os pais tinham problemas de alcoolismo –, a inglesa explica que estava “desesperada por ser amada”.
Conseguiu convencer a mãe a não regressarem ao Reino Unido. A mãe foi viver com o dono do bar, homem com quem tinha começado uma relação, e Megan foi viver com Jak.
“Ele tratava-me tão bem. Eu acreditava nele. Apaixonei-me por ele e ele por mim quase instantaneamente. Ele era mesmo encantador”, conta a jovem ao jornal inglês The Guardian.
Pouco tempo depois, as coisas começaram a mudar. A sua personalidade adorável rapidamente passou a controladora e conseguiu convencer a britânica a mudar-se para Atenas, onde dizia que tinha uns primos que lhe conseguiriam arranjar trabalho em cafés.
Já na capital grega, Megan viu-se envolvida nas redes de tráfico sexual e descreve a primeira vez que foi violada. Explica que Jak deu-lhe uma caixa de cartão e disse que tinha de a entregar à porta de um escritório. Apesar de sentir que algo não estava certo, foi fazer a entrega. Um homem abriu-lhe a porta, encaminhou-a para um quarto sem janelas, com uma câmara num tripé aos pés da cama. “Ele violou-me. Estava a filmar e eu paralisei porque fiquei em choque”. Depois de o homem lhe pagar é que a jovem abriu a caixa de cartão: estava repleta de preservativos. Era a primeira vez que tinha tido relações sexuais.
A partir dessa altura, começou a trabalhar como prostituta em bordéis e até nas ruas de Itália. A jovem recorda mesmo uma noite em que teve relações sexuais com 110 clientes ao longo de 22 horas e acabou por ficar doente. O proxeneta, ao vê-la naquele estado, decidiu fechar o bordel. “Achei que ele tinha sido decente comigo”. Em seis anos de prostituição, Megan contraiu sífilis seis vezes.
Os traficantes obrigavam-na ainda a escrever postais à mãe a dizer-lhe o quão feliz estava. “Estes traficantes são muito muito espertos. Eu quero que as pessoas percebam que não é fácil simplesmente largar tudo e ir embora”.
Megan recorda que conseguiu ajudar uma jovem polaca a fugir após ter convencido um cliente com dinheiro a pagar-lhe uma passagem de avião. Todavia, refere que nunca lhe passou pela cabeça fazer isso para si.
A inglesa chegou a ser detida pelas autoridades, mas nunca teve coragem de contar o que se estava a passar, com receio pela sua vida e pela da sua mãe. Só quando teve um ataque psicótico, que levou a que estivesse três meses internada num hospital grego, é que disse o que se passava. Nessa altura, a mãe de Megan foi contactada e ambas regressaram ao Reino Unido.
O regresso também não foi fácil. Os traumas fizeram com que recorresse ao álcool e teve maus relacionamentos amorosos. Ao fim de algum tempo, arranjou trabalho e, graças à ajuda de uma colega de trabalho a quem contou a sua história de vida, foi para um centro de apoio.
Megan, atualmente com 25 anos e sóbria há sete meses, escreveu um livro sobre a sua experiência e sonha abrir uma instituição de caridade para ajudar outras vítimas de tráfico sexual.