A direita invertebrada

Na passada sexta-feira, 8 de janeiro, a Assembleia da República repôs os feriados anteriormente suspensos pelo Governo PSD-CDS.

Os feriados civis restaurados foram o Cinco de Outubro, dia da implantação da República, e o Primeiro de Dezembro, dia da Restauração ou refundação de Portugal. Se quanto ao Cinco de Outubro podia haver dúvidas, eliminar o Primeiro de Dezembro foi uma enormidade, bem simbólica da confusão política portuguesa.

O mais extraordinário é que a peregrina ideia de suprimir o dia da restauração da independência tenha vindo de um governo dito ‘de direita’ – e a que os seus inimigos até chamam de ‘ultradireita’ – e que seja agora uma “maioria de esquerda” a restabelecê-lo. É sinal da grande confusão ideológica em que vivemos e da indigência conceptual dos responsáveis.

Não alimentando grandes ilusões sobre as razões do discurso nacionalista adotado agora pelos comunistas (Marx e os profetas do Capital eram internacionalistas e o grande comunista ‘nacional’ foi Estaline), é melhor que assim seja. Os comunistas são portugueses e desde que acabou a URSS perderam o rótulo desagradável de ‘franchise’ da multinacional soviética. Também não comove nem surpreende que a extrema-esquerda tenha ajeitado ideologicamente o seu evangelho igualitariamente correto para fazer passar a sua agenda fraturante nas questões da Família.

O que choca é a anomia ideológica desta pseudo-direita partidária, cuja cartilha se resume a uma admiração resignada pela sabedoria de Bruxelas e dos Mercados, e que abandonou radicalmente o nacionalismo político, o conservadorismo social e o justicialismo económico.

Talvez porque estes valores  tenham feito parte da ideologia do anterior regime e tenham sido defendidos de forma autoritária, as tais ‘direitas ultraliberais’ resolveram metê-los  na gaveta, convencidas de que o eleitorado patriótico e conservador, a ‘direita sociológica’, acabará sempre, à falta de melhor, por votar nelas.

E até votam. Será porque Salazar os habituou à proteção da Polícia e a não terem que pensar? E porque, depois de Salazar, o Povo do Norte, ‘os americanos’ e o Dr. Soares os defenderam em 1975? E agora a NATO e a União Europeia?
Talvez não seja a direita mais estúpida do mundo, mas é com certeza uma das mais invertebradas.

P.S. – Termino hoje a minha colaboração nesta coluna. Aqui fui procurando, ao longo dos últimos anos, acompanhar, discutir e interpretar as ideias e os temas de um mundo complicado, volátil e pouco previsível. Com objetividade e realismo, mas sem deixar de parte valores e princípios.