Eleições de domingo repetem as de 2006

As presidenciais de 2006 têm muitas semelhanças com as eleições do próximo domingo. Há dez anos, um único candidato do centro-direita, Cavaco Silva, enfrentava vários concorrentes da esquerda e centro-esquerda. Cavaco venceu então com mais de 2 milhões e 700 mil votos, equivalentes a 50,6%. 

Foi uma vitória difícil e tão curta que teriam bastado menos 33 mil votos para ter sido necessária uma 2.ª volta. Nos seus opositores à esquerda, contavam-se duas figuras que dividiam o PS, Mário Soares (14,3%) e Manuel Alegre (20,7%), além de Jerónimo de Sousa pelo PCP (8,6%) e Francisco Louçã pelo Bloco de Esquerda (5,3%).

No domingo, repete-se a existência de um só candidato no centro-direita, Marcelo Rebelo de Sousa. E repetem-se, no lado oposto, dois candidatos a dividirem as preferências do PS, mais um obrigatório do PCP e outro do BE, além de cinco pequenos concorrentes que jogam uma espécie de Liga dos Últimos.

Marcelo, tal como Cavaco em 2006, é acusado por algum eleitorado PSD e CDS mais faccioso de fazer uma campanha excessivamente ao centro e demasiado simpática com a esquerda. Mas Marcelo precisa, obviamente, para chegar acima dos 50%, de alargar a sua base eleitoral para além dos 38,6% da coligação PSD/CDS em 2 de outubro – tal como Cavaco necessitava em 2006 de conquistar outras faixas de eleitores, para além dos escassos 36% de PSD e CDS nas legislativas de fevereiro de 2005. Parece elementar.

M arcelo é capaz de entrar com mais facilidade do que Cavaco no eleitorado do centro-esquerda e os seus opositores têm menor estatuto e dimensão política do que os candidatos de 2006. Nóvoa e Belém até podem somar, juntos, os mesmos 35% de Soares e Alegre, mas ficam muito aquém destes. Acresce que Edgar Silva é uma triste sombra de Jerónimo e só Marisa Matias poderá ser eleitoralmente mais eficaz do que Louçã.

Quer isto dizer que Marcelo já ganhou à 1.ª volta? É o mais provável. O contrário seria uma verdadeira surpresa eleitoral. Mas se as eleições de 2006 são um bom augúrio para Marcelo, também é bom não esquecer as presidenciais de 1986. Freitas do Amaral alcançou 46,3% à 1.ª volta e, mesmo assim, conseguiu perder essas eleições.

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