O acordo sobre a troca de prisioneiros entre Estados Unidos e Irão mostra a aproximação diplomática entre dois países desavindos desde que a revolução islâmica se instalou em Teerão em 1979. Um colunista do New York Times escrevia na segunda-feira acreditar que «há grandes hipóteses de ver as relações diplomáticas reatadas em cinco anos», mas a desconfiança continua alta e a administração norte-americana vê-se obrigada a enviar sinais para apaziguar a oposição interna e os seus aliados do Médio Oriente.
Intenção denunciada ontem, quando, à margem dos trabalhos do Fórum Económico de Davos, o secretário de Estado John Kerry assumiu pensar que «algum do dinheiro» disponibilizado para Teerão com o fim das sanções nucleares «acabará nas mãos da Guarda Revolucionária iraniana e de outras entidades, algumas das quais consideradas organizações terroristas».
Um reconhecimento que mostra a determinação de Washington em monitorizar as ligações iranianas com grupos como o libanês Hezbollah e a tentativa de apaziguar aliados como Israel e Arábia Saudita, que se mostraram céticos com a sucessão de acordos entre os EUA e Teerão.
Na mesma linha surgiu, dias antes, o anúncio de novas sanções impostas ao Irão devido aos testes de mísseis balísticos realizados pela República Islâmica. Sanções de escala muito inferior às impostas devido ao programa nuclear e que atingem apenas empresas e iranianos ligados ao setor e não o financiamento do Estado. Era a resposta da Casa Branca às críticas iniciais dos republicanos, incluindo de candidatos à sucessão de Obama: Ted Cruz reagiu ao acordo dizendo que a libertação de iranianos equivale a «dizer a qualquer criminoso que deve capturar norte-americanos», pois «basta deter um para Obama começar a negociar a libertação de terroristas».
Após oito anos de crispação partidária e em plena clima de campanha eleitoral, vale tudo: na verdade, os sete iranianos libertados (seis deles são também norte-americanos) estavam presos devido a crimes económicos relacionados com a violação das sanções impostas ao_Irão devido ao programa nuclear. Mas, no meio dos ataques, Obama contou com a ajuda preciosa de alguns dos principais meios de comunicação do país.
Jornais omitiram negociação
No meio da longa negociação secreta entre os dois países, a história chegou às redações do Washington Post, Wall Street Journal, CNN e Huffington Post – e os dois últimos assumiram a decisão de omitir a informação logo após o anúncio de sábado sobre a troca de prisioneiros.
No Huffington Post, o chefe da redação em Washington escreveu que o jornal soube da notícia no outono passado, quando um membro do Departamento de Estado se mostrou disposto a falar de umas negociações que tinham acabado mal. «Mas, ao aprofundarmos a notícia, descobrimos que as negociações nunca tinham parado», escreveu Ryan Grim ao explicar porque decidiu seguir a «convenção jornalística que há anos impede, mais ou menos, de noticiar negociações sobre reféns e trocas de prisioneiros devido ao risco de prejudicar as conversas». Grim diz-se feliz por não ter escrito uma história que podia ter «executado um colega» – «em vez disso escrevemos esta. E ainda bem».