É natural da Amadora, tem 61 anos, uma estima desmedida pelo seu longo cabelo grisalho, gosta de pastilhas elásticas, é irreverente junto às quatro linhas e trata por tu a mais recente competição do futebol português (criada em 2007/08). Sim, falamos de Jorge Jesus, um autêntico papa-títulos da Taça da Liga.
Não há nenhum treinador mais titulado na história da competição: venceu cinco das oito edições anteriores. É quase metade de todos os canecos que já levantou na sua carreira (13). E quase um casamento perfeito (sem direito a copo de água). Em parte graças ao sucesso que alcançou no Benfica (2009-15), onde jogou o único que se pode orgulhar de ter mais troféus do que o ‘cérebro’ da tática. Falamos de Maxi Pereira, que ostenta seis medalhas de vencedor numa estante da sua nova moradia no Porto.
Mas tal como os tempos, também as vontades se mudam e do outro lado da Segunda Circular Jesus não se desvia um milímetro do principal objetivo da época, o campeonato. A Taça da Liga deixou por isso de ser, como até então, uma prioridade. A derrota do Sporting em Portimão (2-0), onde apresentou uma equipa secundária na segunda jornada do Grupo C, disputada no passado dia 19, atesta o raciocínio.
Passamos a palavra ao treinador: “Se sentíssemos que a Taça da Liga era muito importante, teria apostado noutra equipa em Portimão e teríamos ganho”, atirou convicto Jesus.
Os números que apresenta no historial da prova não deixam dúvidas: 28 vitórias (25 de águia ao peito) em 35 jogos, cinco empates e duas derrotas. Antes da mais recente, já de verde e branco no Algarve, era preciso recuar até 2008, quando os Guerreiros do Minho perderam com o Rio Ave (1-0).
O momento da verdade A tarefa é (quase) impossível: garantir os três pontos e anular cinco golos de desvantagem para o Portimomense (líder do grupo) – à entrada para a última jornada – na visita a Arouca. Ah, e esperar que os algarvios não pontuem na visita a Paços de Ferreira.
Sai a lista de jogadores convocados e nova surpresa. Muitos adeptos leoninos terão levado as mãos à cabeça (ou talvez não): Rui Patrício, Slimani, João Mário, Naldo, William Carvalho e Adrien Silva ficam em casa a ver o jogo no sofá. Três elementos da equipa B são chamados ao banco de suplentes (Domingos Duarte, Podence e Dramé). Azbe Jug, terceiro guarda-redes, calça as luvas e apenas Paulo Oliveira resiste à revolução no onze titular que fez subir nomes como André Martins e Tanaka ao relvado.
Problema: também Lito Vidigal promoveu várias alterações no Arouca. Consequência: num jogo com poucos motivos de interesse durante largos minutos de jogo, só a 9 minutos dos 90 o reforço de inverno Zeegelaar desfez a igualdade, na recarga a um livre de Montero. Chega o apito final e os adeptos bocejam nas bancadas. O mesmo não se pode dizer da euforia que se vive na Mata Real.
Apesar do triunfo dos leões (1-0), o Portimonense carimbou à mesma hora a terceira vitória no grupo frente ao Paços de Ferreira (3-2) e selou uma página histórica: pela primeira vez uma equipa de um escalão inferior (II Liga) chega às meias-finais da Taça da Liga. Para o Sporting, mais do mesmo. É já a quinta vez que a turma de Alvalade é eliminada na fase de grupos.
Com Jesus focado no campeonato e com o FC Porto já eliminado, o Benfica tem o caminho livre para levantar o 7.º troféu.