Emergentes podem desencadear nova crise à escala global

A desaceleração de muitas economias emergentes está a ter repercussões à escala global. E, caso as dificuldades nestes países se mantenham e a aversão ao risco se instale nos mercados financeiros, estão reunidos os ingredientes para uma nova crise mundial.

O aviso foi deixado nas últimas previsões económicas do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas na semana passada. A organização reviu em baixa as previsões de evolução da economia global, antevendo que o PIB mundial cresça 3,4%, duas décimas abaixo das projeções anteriores.

A revisão deveu-se a um desempenho menos robusto das economias emergentes, sobretudo no Brasil, onde o FMI assinala que a incerteza política e a investigação Petrobras estão a provocar uma recessão “mais profunda e mais prolongada do que o esperado”.

Há também perspetivas negativas no Médio Oriente devido à queda do petróleo, tal como na China, que está a desacelerar. Mas o FMI teme efeitos de contágio noutras economias. Muitos mercados avançados na Europa dependem da procura das economias emergentes para as suas próprias exportações. Além disso, os mercados emergentes eram dos principais investidores nos mercados financeiros e nas economias mais desenvolvidas.

Os mercados emergentes representam cerca de 70% do crescimento mundial e, se o abrandamento for duradouro, as consequências podem ser gravosas. O fundo aponta o risco de um “súbito aumento da aversão global ao risco”, que pode gerar turbulência financeira. Neste ambiente, diz o FMI, qualquer choque numa grande economia ou num mercado emergente “poderia gerar efeitos de contágio mais amplos”.

O Banco Mundial também não esconde o receio. Num relatório publicado esta semana, a organização lembra que os mercados emergentes têm sido os principais impulsionadores da procura por matérias-primas desde 2000. Um abrandamento adicional nestas economias reduziria o crescimento dos parceiros comerciais e do mercado global. “Leva tempo até que as vantagens de preços mais baixos das commodities se transforme em mais crescimento económico nos importadores, mas os exportadores estão a sentir a dor de forma imediata”, ilustra o diretor de perspetivas de desenvolvimento do Banco Mundial, Ayhan Kose.

Ontem, o “Financial Times” avançou que o FMI e o Banco Mundial estarão a preparar uma série de resgates a países afetados pela descida dos preços do petróleo, como o Brasil, o Equador e a Venezuela. O primeiro poderá o Azerbaijão, com um empréstimo de quatro mil milhões de dólares.