Jogo de Damas: um filme para controlar a dor

Em “Jogo de Damas”, o primeiro filme da realizadora Patrícia Sequeira, cinco amigas juntam-se para chorar uma morte. O que descobrem pode ser perturbador.

Um email com uma boneca e a pergunta «Vamos jogar?». Foi este o ponto de partida, há quase dois anos, de Jogo de Damas. A realizadora Patrícia Sequeira sabia perfeitamente quem eram as atrizes que queria na sua primeira incursão no cinema e achou que a melhor forma de as aliciar seria com um mistério. E todas aceitaram. «O meu maior mérito foi conseguir juntar estas cinco pessoas», reconhece. Convenhamos: juntar, numa primeira obra, Maria João Luís, Fátima Belo, Ana Nave, Ana Padrão e Rita Blanco, é mesmo obra. Uma obra que, no entanto, estava facilitada para Patrícia Sequeira.

Apesar de assinar aqui o seu primeiro filme, leva já perto de 20 anos a realizar séries e novelas, projetos onde trabalhou frequentemente com estas atrizes. Além do elenco, Patrícia Sequeira tinha já definido que queria recorrer a uma metodologia diferente. Em vez de apresentar uma obra fechada, desafiou as cinco atrizes a serem coautoras do filme, que seria construído, em conjunto, ao longo de inúmeros encontros que culminaram com cinco dias de retiro na casa que viria a servir de cenário ao filme. Era inevitável que este seria um filme de atrizes. Um filme feito por uma realizadora que adora atrizes, sobretudo «atrizes que já estão nestas idades, que não têm de provar nada».

Jogo de Damas explora, então, o universo de mulheres maduras, que se confrontam com a morte de uma delas, Marta. E é para respeitarem a memória da amiga que partiu, que se juntam para uma noite, no turismo rural que a amiga construiu mas não teve tempo de inaugurar. Um encontro que, no entanto, se revela, mais perturbador que a própria dor que procuram domesticar. Numa noite, entre as 6 da tarde e as 6 da manhã, as cinco mulheres redescobrem-se e redescobrem a sua amizade, que remonta à adolescência. Só que a vida passa, as pessoas mudam. E, por vezes, é necessária a morte para nos mostrar como nos afastámos daqueles que achávamos fazerem parte da nossa vida.

Poderá ser fácil ver aqui uma espécie d’Os Amigos de Alex, até pelo facto de a primeira parte do filme ser pontuada por clichés e as frases feitas (num guião desenvolvido pela escritora Filipa Leal). No entanto, e apesar de Patrícia Sequeira assumir que adora clichés, a complexidade acaba por progressivamente tomar conta do enredo, mostrando uma densidade e uma respiração que pareciam poder estar comprometidas. Um filme sobre a morte, mas sobretudo sobre a amizade e os seus nós.