Em reação a essa notícia do SOL, a diocese do Funchal revelou em agosto que iria estudar o caso e falava mesmo na possibilidade de lhe ser aplicada a “pena de suspensão”. Fonte oficial avançou também que as medidas poderão ir além da suspensão. “A Diocese do Funchal está a estudar e a ponderar as medidas a tomar e também a pena de suspensão ou outras”, explicaram. A ser aberto um procedimento formal, é a primeira vez em mais de vinte anos que a Igreja abre um inquérito interno sobre este caso.
Tendo em conta as informações reveladas, a mesma fonte adiantou que “qualquer atividade que [Frederico] possa estar a exercer é sem o conhecimento não apenas da Diocese do Funchal mas de qualquer diocese do Brasil”.
Esta semana fonte oficial daquela diocese explicou ao SOL que o assunto ainda está a ser estudado e que ainda não existe uma decisão final: “Neste momento [ainda] não dispomos de elementos ou informações diferentes”.
A decisão de reavaliar a abertura de um inquérito surgiu em agosto poucos dias depois o trabalho exclusivo do SOL sobre o dia-a-dia de Frederico Marcos da Cunha no Rio de Janeiro. O brasileiro está foragido da Justiça portuguesa desde 1998 e poderá ver a pena prescrita já em 2018.
A Diocese do Rio de Janeiro também despertou para o caso na sequência desta notícia e acabou por levar a cabo algumas diligências naquele país para tentar localizar o padre.
Nessas declarações ao SOL, o padre condenado pelo assassínio de Luís Miguel, em 1992, não quis especificar em que pastoral do Brasil celebra missa para evitar “confusões”, mas confirmou não pertencer a nenhuma diocese brasileira. “É verdade, não estou ligado à Igreja Católica pelo Rio de Janeiro, a minha diocese é a Diocese do Funchal, sempre foi. Nunca mudei a minha diocese”, afirmou, explicando que “só tinha de estar ligado à Diocese do Rio se fosse para uma paróquia da cidade”.
A vida no Rio de Janeiro
Atualmente não é com a religião que ganha a vida, mas sim com um dos seus talentos. O interesse pela fotografia abstrata vem de longe – já dos tempos em que vivia em Portugal – e agora é mais do que um hobby, sendo uma das suas atividades.
Frederico prefere sublinhar que nunca foi “pedófilo” nem “assassino”, rematando quase sempre: “Não há uma única prova contra mim, fui condenado por convicção do tribunal, nenhuma prova. Nem de pedofilia, nem de assassinato”.
Ao fim de 17 anos a viver no seu país, Frederico garantiu não ter dúvidas de que a sua condenação em Portugal foi típica de um regime Nazi. “Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler que matou os filhos e a esposa e se suicidou, disse uma coisa muito interessante: ‘uma mentira muitas vezes repetida torna-se verdade, ou pelo menos aparenta ser verdade’. Foi o que aconteceu comigo”, assegurou apontando o dedo aos juízes e procuradores que tiveram o seu caso em mãos: “utilizaram o método fascista”.
O caso
Em 1993 um tribunal de júri no Funchal deu como provado que, no ano anterior, Frederico atirou de uma falésia Luís Miguel, um jovem de 15 anos. Tratou-se do primeiro julgamento de um padre católico em Portugal e durou apenas três meses. Frederico negou sempre o seu envolvimento, mas acabou condenado a um cúmulo jurídico de 13 anos de prisão pelo assassinato e crimes de natureza sexual com o jovem.
Além da prisão o tribunal decidiu aplicar-lhe uma pena acessória de expulsão do território nacional e obrigá-lo a uma indemnização de oito mil euros à família da vítima. Esta nunca foi paga.
O seu afilhado, José Noite, na altura com 18 anos, também foi condenado a 15 meses de prisão por ter arranjado um falso alibi para o padrinho.
O padre brasileiro acabou preso no estabelecimento de Vale de Judeus, mas aproveitou uma saída precária, em 1998, para fugir. No dia 10 de Abril foi de carro até Espanha e, como não havia comunicação das saídas precárias aos aeroportos europeus, acabou por embarcar no Aeroporto de Barajas, Madrid, para o Brasil juntamente com a sua mãe.
Tudo sobre a vida do Padre Frederico no Brasil: