Vem-que-as-portas-estão-abertas não é coisa inédita no teatro. Nem sequer o é noutras manifestações artísticas – residências anuais, ocupação momentâneas, co-produções e partilhas de fundos comunitários. Aqui impera a vontade, o desejo de abrir caminho, de diminuir a quilometragem que une o_Vale do Minho e o Rossio. Esforços que se unem no D. Maria II, sobretudo desde que Tiago Rodrigues assumiu a direção da casa, como nos confirma João Pedro Vaz, encenador de Os Doze Pares de França e diretor artístico das Comédias do Minho: «O Tiago Rodrigues disse-me que gostava que o D. Maria II pudesse abrir-se a outro território. Propôs-nos uma pequena utopia que é colocar, num espaço e num tempo particulares, todo o nosso trabalho». O resultado foi a Ocupação Minhota que invade o teatro nacional até ao final do mês.
Já está em cena – e fica até dia 21 – uma nova criação das Comédias do Minho feita sobre este conceito, de diálogo, talvez o melhor seja dizer confronto, entre duas formas de dizer arte. Os Doze pares de França são o terreno de uma guerra que opõe o universo mouro liderado pelo Almirante Balão e pelo seu filho_Ferra Braz, com a tropa de elite do imperador Carlos Magno, um exército de doze notáveis a quem se chama pares do reino.
Quando o Conde Oliveiros, um desses cavaleiros, defronta Ferra Braz em plena Turquia, capital do império mouro, o resultado é um empate. Ou seja, alguns dos pares conseguem escapar, outros ficam prisioneiros. O enredo é importante, que essa dúvida fique esclarecida, contudo há um propósito maior. Enquanto no Vale do Minho o teatro se faz em juntas de freguesia e coletividades centenárias com mesas de bilhar e sandes de couratos, em pleno Rossio há uma sala pomposa e camarins para os atores. «Sim é uma battle propositada. Aqui os meus atores ficam frágeis perante esta caixa imponente, lá em cima a escala inverte-se. Isto é uma guerra entre uma máquina de paisagem e uma máquina de pena. Eles têm os artifícios, as máscaras e os atores das Comédias do Minho vêm mais despojados», esclarece João Pedro Vaz.
Por último, convém dizer que estamos perante uma abordagem pouco vista: um auto popular. «O auto popular interessa-me. Aqui é colocar num sítio absolutamente central um repertório e uma herança de representação periférica. Isto é uma espécie de linha de tensão, ou seja, trazer para o teatro nacional um reportório, entre aspas, menos nobre», explica. Coloquemos então as aspas.