A importância de saber dizer não

Esta semana fui entrevistar Javier Urra, uma personagem que, confesso, me suscitava alguma curiosidade. Em 2007, o livro do psicólogo e pedagogo espanhol, “O Pequeno Ditador” tomou de assalto Portugal. Não tenho filhos, mas todas as minhas amigas com filhos falavam do livro. A frontalidade e até crueza na forma como Urra defendia aquilo que,…

Esta semana, Javier Urra regressou a Portugal para apresentar o seu mais recente livro, “O Pequeno Ditador Cresceu”, uma espécie de atualização da obra anterior. Na conversa que tivemos, falou-me como andamos todos – pais, pedagogos, irmãos, tios, amigos – a escolher a via do facilitismo. Se a criança é muito agitada, vamos medicá-la para a hiperatividade. Se a criança é muito curiosa, vamos sobreprotegê-la não vá descobrir que a vida não tem nada a ver com os filmes da Disney. Só que a vida não tem nada a ver com facilitismo.Pelo menos não para o comum mortal. 

Sim, vivemos numa sociedade stressada. Andamos todos stressados, os mais velhos e os mais novos. E, por vezes, a última coisa que nos apetece é, ao final do dia, ainda estar a comprar uma guerra com uma criança. E portanto mais vale dizer sim em vez de não. Ou seja, mais vale o facilitismo. Mas o não é tão mais importante que o sim. Agora, o que é ainda mais importante, é saber como dizer não. E pais e filhos têm a obrigação de assinar pactos de não-agressão. Como Urra sublinha, um pai e um filho não podem nunca (não devem, pelo menos) dizer um ao outro nada que tenha como único intuito magoar o outro.

Quando ouvi estas palavras não consegui evitar pensar como isto não se deveria aplicar apenas a pais e filhos. A vida não é cor-de-rosa, é certo, há discussões, muitas vezes dizemos o que não sentimos, e fazêmo-lo mesmo com o intuito de magoar. Já toda a gente o fez. Mas se calhar temos de começar a pensar mais vezes: e se for a última vez que falamos com aquela pessoa?

raquel.carrilho@ionline.pt