Sporting: tomar a pastilha e sair da festa

Nova derrota com o Leverkusen comprovou que a tradição ainda é o que era: não só os leões continuam sem vencer na Alemanha como há quatro anos que não chegam aos oitavos-de-final.

Faltavam poucas horas para o início do jogo em Leverkusen quando Jorge Jesus levou as mãos à cabeça pela primeira vez (repetiu o gesto mais três vezes). O capitão Adrien lesionou-se no treino da manhã e obrigou o técnico do Sporting a riscá-lo do lote de convocados para a partida decisiva frente ao Bayer, na segunda mão dos 16-avos-de-final da Liga Europa. Pior: o médio está em dúvida para a deslocação a Guimarães (campeonato) na próxima segunda-feira.

Uma entrada com o pé esquerdo na Alemanha, um território de má memória para o emblema leonino, que nunca regressou a casa com uma vitória na bagagem. Em 11 deslocações, o melhor registo dos leões foi um empate sem golos (0-0) diante do Bayern Munique, na época 2006/07. Pelo meio, duas derrotas na BayArena: 4-1 em 1997/98 e 3×2 em 2000/01.

Pediam-se, por isso, 90 minutos históricos ao líder da I Liga, de forma a inverter a tendência. O problema é que a desvantagem de um golo trazida de Alvalade dificultava a missão (1-0).

Para a prova de fogo, à semelhança dos anteriores compromissos europeus, Jesus optou por gerir o plantel – o principal objetivo sempre foi o campeonato. Bryan Ruiz e Islam Slimani ficaram, por isso, sentados no banco de suplentes. Mané e Bruno César foram chamados ao onze titular. Do outro lado do relvado, Chicharito Hernández (ausente na primeira mão piscava o olho.

O ponteiro do relógio bate nas 18h00. As equipas entram em campo e seguem-se os habituais ‘passou-bem’ entre jogadores e árbitros. O francês Ruddy Buquet sopra no apito e rola a bola pela relva. Dois minutos de jogo e sai o primeiro aviso dos alemães: após um livre, Kyriakos Papadopoulos testa de cabeça as luvas de Rui Patrício.

Sete minutos depois, o Bayer volta à carga: cruzamento longo ao segundo poste, Chicharito salta com o guardião do Sporting, mas ambos acabam por falhar o lance, com a bola a sair pela linha de fundo. Abrir parênteses: (Patrício tornou-se o 5.º guarda-redes mais novo de sempre a atingir 73 jogos nas provas da UEFA). Fechar parênteses.

Apesar dos lances de perigo, até era a equipa de Jesus que comandava as operações. Pelo menos na posse de bola: 52% aos 20’ de jogo. Um dado estatístico que não evitou que o Bayer, com 3 jogadores de 19 anos em campo (Julian Brandt, Tin Jedvaj e Jonathan Tah), chegasse primeiro ao golo. Numa jogada de contra-ataque (30’), Bellarabi (que já tinha feito o golo dos alemães em Alvalade) conseguiu fazer passar a bola por entre as pernas de Patrício e abrir o marcador (1-0).

O ritmo continuava acelerado e a resposta não tardou. Já depois de Mané ter desperdiçado uma oportunidade flagrante no interior da área, João Mário aproveitou uma recarga ao segundo poste para relançar a eliminatória (38’) e fazer o gosto ao pé pela primeira vez na Liga Europa (em 8 jogos). A eliminatória parecia em aberto ao intervalo.

E tudo o segundo tempo mudou O Sporting até começou bem os últimos 45 minutos, com várias iniciativas no ataque, mas Bellarabi (quem mais?) voltou a fazer estragos (65’), com um remate sem hipótese de defesa para Patrício. Os leões ainda se tentaram recuperar do choque, já com Bryan Ruiz e Slimani em campo, mas Çalhanoglu, em mais um remate de belo efeito (87’), arrumou o assunto (3-1).

A tradição ainda é o que era. Pela quinta vez consecutiva, o Sporting sai da Alemanha sem a vitória. E aumenta para 11 o número de derrotas em 12 deslocações. Isto piora: há quatro anos que a equipa de Jorge Jesus não chega aos oitavos. Cortesia de mais uma equipa alemã. Depois do Wolfsburgo, na última época, este ano foi a vez do Bayer fazer de carrasco dos leões, que dizem adeus à Liga Europa na terra dos farmacêuticos. Sobra o campeonato.