O totalitarismo genético do Bloco

Mariana Mortágua, deputada do BE, afirmou no debate parlamentar que o OE-16 não é um risco para os mercados financeiros, mas que “Bruxelas é um risco para o Orçamento, e é um risco para Portugal”. Já no dia anterior, Mortágua falara do “lápis azul de Bruxelas”, com a habitual e inimputável ligeireza dos bloquistas.

Ora, o Bloco, apesar das suas raízes ideológicas totalitárias, já convive com a democracia parlamentar há mais de 16 anos, já sabe quais são as regras europeias, quais são os direitos e deveres de cada Estado na sua livre e voluntária associação na União Europeia.

Cabe, pois, perguntar a Mariana Mortágua: ao fim deste tempo todo, ainda não percebeu como funciona Bruxelas e uma democracia a 28? Julga-se a iluminada representante de uma vanguarda política com direito a impor aos outros os seus delírios minoritários e as suas extravagâncias ideológicas? Não aprendeu nada com a Grécia? Com o descrédito em que caíram o radical Varoufakis e o seu revolucionarismo infantil? Com o violento choque do Syriza contra a dura realidade? Com o resignado pragmatismo a que se remeteu o camarada Tsipras?

Pelos vistos, não. O BE e as suas vanguardistas dirigentes aprendem pouco com os factos e com a vida. Mas abundam em demagogia. Como a do ‘lápis azul’, símbolo da censura ditatorial para suprimir a pluralidade de opiniões e as críticas incómodas. Não é Bruxelas, é mais o totalitarismo genético do Bloco que, na sua intolerância, gostaria de riscar do mapa as vozes direitistas de Bruxelas, as análises liberais dos mercados, as opiniões conservadoras de muitos governos europeus democraticamente eleitos. Se o Bloco pudesse ter à mão um ‘lápis azul’, poucas expressões livres e discordantes resistiriam ao seu furor revolucionário. Essa é que é essa.

E se o 1.º-ministro e o ministro das Finanças admitem estar a trabalhar num plano B para apresentarem a Bruxelas, com medidas adicionais que se escusam para já a revelar, Mortágua não se inibe de os desdizer na cara e garantir “claramente que não há plano B, que só há uma opção que é aprofundar o plano A”. O Bloco já julga que manda na aliança a três e que tem ascendente até sobre o 1.º-ministro? António Costa que se cuide.

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