Agora, o mercado dá o CaixaBank como um dos principais interessados na compra do Novo Banco, caso ultrapasse com sucesso as negociações com Isabel dos Santos no BPI e compre a participação da empresária angolana no banco de Fernando Ulrich. Se conseguirem juntar o BPI e o Novo Banco, os espanhóis ficam com uma instituição gigante, muito perto do maior banco do sistema, a Caixa Geral de Depósitos.
A crescente ‘espanholização’ do da banca portuguesa tem alimentado temor nos corredores do poder. Embora o concurso para a venda do Novo Banco está ainda numa fase preliminar, há vozes receosas com uma investida ainda mais vigorosa no futuro, com o beneplácito do Banco Central Europeu (BCE).
O economista Francisco Louçã, numa carta enviada ao ministro das Finanças juntamente com o economista Ricardo Cabral, alertou precisamente para o «risco de espanholização do sistema bancário português». A tese é simples: «O BCE quer o Santander como banco europeu de referência para a Península Ibérica», escreveu Louça.
Marques Mendes, no comentário da SIC, foi mais longe, indicando que o Governo, o governador do Banco de Portugal, Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa sabiam do que ninguém fala na praça pública: «Há uma tentativa do BCE de entregar o controlo dos principais bancos nacionais aos bancos espanhóis. É uma espécie de ‘espanholização’ da banca portuguesa».
Espanhóis em expansão
Segundo esta visão, o passo de curto prazo para aprofundar a presença dos espanhóis é uma a alteração do Código dos Valores Mobiliários que permita votações em AG sem limites de votos, que poderia solucionar o caso BPI em favor do CaixaBank. A operação teria o aval do BCE e permitira dar depois seguimento na corrida ao Novo Banco. E há até tema que o BCP mude para mãos espanholas, já que o fim dos limites de votos tornaram o banco mais ‘opável’.
Mas até que ponto a teoria da invasão vizinha faz sentido? «Falar da espanholização da banca nacional transmite a ideia errada de que existe uma estratégia concertada para tomar controlo da soberania financeira portuguesa. O que está a acontecer é um cenário completamente diferente», conidera Eduardo Silva, gestor da corretora XTB.
A banca espanhola está há anos num processo de expansão internacional, com destaque para o Reino Unido e América Latina- Agora vira-se para Portugal de forma mais agressiva. «A estratégia passa por diluir o risco», refere o analista.
O que mudaria?
O reajuste do sistema bancário espanhol acabou com muitas cajas, bancos regionais e instituições de crédito local, que se fundiram e criaram um sistema financeiro mais sólido. «Depois de um período cuja prioridade era a sobrevivência passaram para um período de crescimento e recentemente procuram novamente a expansão através de aquisições estratégicas».
Se o mercado de fusões e aquisições bancárias animar em Portugal, o retrato do sector pode sofrer mudanças significativas. Se BPI comprar o Novo Banco, isso significaria que mais de 40% dos balcões no país passam a ser de bancos espanhóis, segundo contas do SOL com base nos dados mais recentes da Associação Portuguesa de Bancos. Em Portugal existem cerca de 5.000 balcões e o conjunto de bancos espanhóis teria predominância. Os grupos BPI+Novo Banco, Santander+Banif, Banco Popular, Bankinter e BBVA teriam mais de 2.100 balcões.
Caso a ofensiva espanhola abrangesse também a compra do BCP, o peso dos espanhóis nos balcões em Portugal aproximar-se-ia dos 60%. Os espanhóis teriam quase 2.900 balcões. Apenas a CGD, o Montepio e as caixas de crédito agrícola continuariam a representar as cores portuguesas.
E quais seriam as consequências desta mudança? As opiniões dividem-se. Pedro Lino, presidente da corretora Dif Broker, tem uma perspectiva positiva. «Há muitos anos que banca já não é portuguesa, com excepção da CGD e Novo Banco. OS bancos BCP e BPI são detidos na sua maioria por estrangeiros, e de português apenas têm o nome. A principal consequência seria um aumento da credibilidade e solidez do sistema financeiro», diz.
Mas há quem tema a perda de soberania financeira no controlo do crédito à economia nacional, às empresas e ao investimento. É o caso de Francisco Louçã, na carta que escreveu às Finanças: «Isso provoca uma situação terrível de dependência, mesmo num ponto de vista de integração económica à escala europeia».
Para Eduardo Silva, o controlo do crédito à economia nacional e às empresas «justifica plenamente as críticas nacionalistas». Mas, por outro lado, «com o sistema financeiro em colapso, a nacionalidade dos capitais poderá ser o menor problema».
Com os bancos portugueses em dificuldades de capitalização, diz o economista, «terá de se ponderar o custo de conceder a soberania financeira relativamente ao custo de resolver a crise bancária nacional quando os custos dos juros já sufocam o crescimento da economia nacional».