“Falou-se muito sobre a escolha de um candidato do aparelho e os eleitores das primárias mostraram até agora que não estão dispostos a votar com o aparelho”, disse em conversa com jornalistas na embaixada em Lisboa. Prova disso é que, a confirmar-se a tendência, a luta a dois no lado republicano “será entre Trump e Ted Cruz, que é também um candidato muito conservador, que não tem boa reputação entre os colegas do senador embora o chamado aparelho republicano esteja a tentar convencer-se de que poderá estar confortável com ele.”
O diplomata admite que se está a assistir a uma “situação sem precedentes na história eleitoral” do seu país, na qual “as regras estão a ser escritas à medida que o processo eleitoral avança.” Mas Sherman, que esteve no primeiro grupo de 30 pessoas que lançaram a candidatura presidencial do então senador Obama, fez questão de sublinhar as diferenças entre umas eleições primárias e presidenciais no seu país: “As primárias têm base no entusiasmo, na faísca provocada por um candidato capaz de mobilizar os eleitores”, enquanto a eleição de um presidente é “muito mais sobre quem se quer ver a liderar o país, em que tipo de mundo se quer viver.”
O embaixador dos EUA em Portugal lembra que “a história mostra que nas presidenciais o eleitorado é muito mais centrista e moderado do que no processo de primárias” e, tentando evitar as referência diretas ao polémico Donald Trump, defendeu que “as mensagens divisórias, intolerantes e desrespeitosas não têm aderência entre os eleitores das presidenciais.” Otimista? “Acredito no meu país, não acertamos sempre mas tenho muita fé no eleitorado norte-americano, que conhece os valores do país.”
Reconhecendo que há “vários fatores” a impulsionar o voto antissistema, o diplomata diz que os eleitores das primárias “procuram um líder que esteja fora de um sistema que consideram falido.” E não é um fenómeno que se dê só à direita, pois Bernie Sanders também tem capitalizado esse sentimento entre o eleitorado democrata, embora, na opinião de Sherman, de uma “forma responsável e sensata.”
E apesar de considerar que a “matemática joga contra” o rival de Hillary Clinton, acredita que este trouxe à campanha “temas importantes como a desigualdade de rendimentos, que têm bastante adesão entre os eleitores da classe média e entre os mais jovens”, que podem vir a ser “adotados” por Clinton caso a ex-secretária de Estado venha a confirmar o estatuto de candidata presidencial.