Embaixador dos EUA analisa primárias: “Acredito no meu país, tenho fé no eleitorado”

Robert Sherman limitou-se a rir. O cargo diplomático de embaixador dos EUA não o deixa ir mais longe do que recordar os tempos em que fez parte da campanha presidencial de Barack Obama para dizer que se trata de um “processo brutal.” Como tal, não sabe se as equipas de Hillary Clinton e Bernie Sanders…

“Falou-se muito sobre a escolha de um candidato do aparelho e os eleitores das primárias mostraram até agora que não estão dispostos a votar com o aparelho”, disse em conversa com jornalistas na embaixada em Lisboa. Prova disso é que, a confirmar-se a tendência, a luta a dois no lado republicano “será entre Trump e Ted Cruz, que é também um candidato muito conservador, que não tem boa reputação entre os colegas do senador embora o chamado aparelho republicano esteja a tentar convencer-se de que poderá estar confortável com ele.”

O diplomata admite que se está a assistir a uma “situação sem precedentes na história eleitoral” do seu país, na qual “as regras estão a ser escritas à medida que o processo eleitoral avança.” Mas Sherman, que esteve no primeiro grupo de 30 pessoas que lançaram a candidatura presidencial do então senador Obama, fez questão de sublinhar as diferenças entre umas eleições primárias e presidenciais no seu país: “As primárias têm base no entusiasmo, na faísca provocada por um candidato capaz de mobilizar os eleitores”, enquanto a eleição de um presidente é “muito mais sobre quem se quer ver a liderar o país, em que tipo de mundo se quer viver.”

O embaixador dos EUA em Portugal lembra que “a história mostra que nas presidenciais o eleitorado é muito mais centrista e moderado do que no processo de primárias” e, tentando evitar as referência diretas ao polémico Donald Trump, defendeu que “as mensagens divisórias, intolerantes e desrespeitosas não têm aderência entre os eleitores das presidenciais.” Otimista? “Acredito no meu país, não acertamos sempre mas tenho muita fé no eleitorado norte-americano, que conhece os valores do país.”

Reconhecendo que há “vários fatores” a impulsionar o voto antissistema, o diplomata diz que os eleitores das primárias “procuram um líder que esteja fora de um sistema que consideram falido.” E não é um fenómeno que se dê só à direita, pois Bernie Sanders também tem capitalizado esse sentimento entre o eleitorado democrata, embora, na opinião de Sherman, de uma “forma responsável e sensata.”

E apesar de considerar que a “matemática joga contra” o rival de Hillary Clinton, acredita que este trouxe à campanha “temas importantes como a desigualdade de rendimentos, que têm bastante adesão entre os eleitores da classe média e entre os mais jovens”, que podem vir a ser “adotados” por Clinton caso a ex-secretária de Estado venha a confirmar o estatuto de candidata presidencial.

nuno.e.lima@sol.pt