O que leva um homem que conquistou o respeito do mundo, que alcançou resultados políticos que poucos ousariam prever, que passou a ser recebido nas melhores e mais exclusivas salas, a emporcalhar-se?
Se forem verdade as acusações do Ministério Público brasileiro, e as constantes notícias publicadas pela imprensa brasileira, então Lula da Silva continuará a ser um caso de estudo. Antes pelas melhores razões, agora pelo mais ignóbil da miséria humana, qual o limite de poder e de ganância para um homem?
2.A tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa correu bem e foi preparada cirurgicamente por um Presidente da República que não deixa nada ao acaso. Momentos simbólicos, momentos afetivos, momentos politicamente relevantes e a promessa de que deixará mesmo uma marca.
Seria bom que o conseguisse. Veremos como irá reagir quando a vida se encarregar de lhe trocar as voltas e tiver de arbitrar golpes de teatro, traições, amuos e a pressão de ter de decidir sem tempo para desenhar no papel uma solução perfeita. O grande desafio dos que tudo programam é o momento em que têm de agir perante o imprevisível.
O país reformista escandalizou-se com o autismo de todos os deputados do PCP e da maioria dos do Bloco de Esquerda. Não aplaudiram o discurso de Marcelo e isso, nas suas razões, é intolerável.
É de uma patética ingenuidade que o pensem. Porque o dia em que comunistas e bloquistas aplaudirem um homem como Marcelo numa tomada de posse, mesmo que com ele ou com as suas palavras simpatizem, será o dia em que enterrarão as ideias em que acreditam e a sua razão de ser.
3.Ricardo Salgado apresentou a sua prova de defesa, um livro de Alexandra Almeida Ferreira, no Grémio Literário. Tem o direito a isso. Mas o que estarão a pensar os fundadores do Grémio, se porventura tiverem gosto em passear os seus espíritos pelos lugares que lhe foram importantes em vida?
O que dirá Alexandre Herculano, o sócio número 1 do Grémio? E Almeida Garrett, Rodrigo da Fonseca e Fontes Pereira de Melo? Perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.
4.Ao longo desta época o mundo do futebol riu-se com Rui Vitória. O treinador do Benfica foi humilhado na praça pública por Jorge Jesus e por uma parte substancial dos comentadores – o excelente Rui Santos apelidou-o de treinador de baixo perfil, os diretores de A Bola (regra geral equilibrados) criticaram-no por ser pouco entusiasmante, pouco preparado para uma equipa como o Benfica, em suma poucochinho.
O futebol, como a vida, tem destas coisas. Mas o que impressiona é que mesmo os melhores de nós estão contaminados com a ideia de que os bons, os que ganham, os que mobilizam vontades são os arruaceiros, os afirmativos, os que têm boa imagem, os que dominam a especulação e o ruído.
Os outros, e Rui Vitória é disso um bom exemplo, estão talhados para serem simpáticos, insignificantes e perdedores. O treinador do Benfica por estes dias é o símbolo de uma poética vingança de classe, uma alegria para quem acredita que na vida todos podem ganhar, até os patinhos feios que – pequeno detalhe – acreditam no trabalho, no silêncio e numa ideia coletiva.