Em outubro, a poucos dias do fim do Executivo PSD/CDS, soube-se que Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado dos Transportes, foi contratado para liderar a venda do Novo Banco. O Banco de Portugal justificou-se então invocando a sua experiência em privatizações. Questionou a oposição, sobretudo os partidos da esquerda – e bem, mais uma vez, por razões semelhantes às do caso de Maria Luís Albuquerque – a contratação e até o salário.
Já muito estranho é o silêncio que reina sobre o caso de Diogo Lacerda Machado. À exceção de um deputado do PSD (Luís Leite Ramos), ninguém – nem no PCP ou no BE, sempre tão lestos em escrutinar nomeações de boys e afins, e bem – parece querer saber a que título um advogado amigo do primeiro-ministro está a intervir como seu “representante pessoal” nas reuniões oficiais de negociação com os lesados do BES e com o consórcio privado que comprou a TAP, com vista à reversão da venda da maioria do capital do Estado. Os pormenores desta ‘geringonça’ informal foram noticiados pelo DN na segunda-feira. Lê-se e não se acredita: os gabinetes de António Costa e do ministro da tutela, Pedro Marques, confirmam que “não há contrato porque [Diogo Lacerda Machado] não tem atuado a título profissional, tem atuado pro bono como representante pessoal do primeiro-ministro”.
É preciso acrescentar que, na negociação da privatização da TAP, a Parpública já é representada pela sociedade de advogados Vieira de Almeida. E que, além de amigo de Costa (do qual foi secretário de Estado da Justiça no Governo de Guterres), a pessoa em causa – jurista brilhante e empresário de sucesso, ao que se diz, cuja seriedade também não está aqui em causa – é administrador da Geocapital, empresa de Stnaley Ho, milionário chinês. Tal como é chinesa a HNA, que entrou com capital na TAP. Geocapital essa que há 10 anos comprou uma empresa no Brasil em parceria com a TAP, num negócio que se revelou “ruinoso”.
Em questões de representação do Estado – como é o caso desta insólita intervenção de Diogo Lacerda Machado – há formalidades que não se podem dispensar. Por uma questão de autoridade, respeito e proteção da posição do próprio Estado. Sob pena de ficarem a pairar suspeitas de amiguismo e clientelismo.