Maria Luís e o amigo do PM: dois pesos e duas medidas

Partidos da oposição, figuras destacadas do PSD e muitos comentadores têm criticado Maria Luís Albuquerque – e bem – por esta ter aceitado trabalhar para um grupo financeiro inglês que em 2014 comprou 300 milhões de euros de crédito mal parado ao Banif, numa altura em que era ministra das Finanças e em que o…

Em outubro, a poucos dias do fim do Executivo PSD/CDS, soube-se que Sérgio Monteiro, ex-secretário de Estado dos Transportes, foi contratado para liderar a venda do Novo Banco. O Banco de Portugal justificou-se então invocando a sua experiência em privatizações. Questionou a oposição, sobretudo os partidos da esquerda – e bem, mais uma vez, por razões semelhantes às do caso de Maria Luís Albuquerque – a contratação e até o salário.

Já muito estranho é o silêncio que reina sobre o caso de Diogo Lacerda Machado. À exceção de um deputado do PSD (Luís Leite Ramos), ninguém – nem no PCP ou no BE, sempre tão lestos em escrutinar nomeações de boys e afins, e bem – parece querer saber a que título um advogado amigo do primeiro-ministro está a intervir como seu “representante pessoal” nas reuniões oficiais de negociação com os lesados do BES e com o consórcio privado que comprou a TAP, com vista à reversão da venda da maioria do capital do Estado. Os pormenores desta ‘geringonça’ informal foram noticiados pelo DN na segunda-feira. Lê-se e não se acredita: os gabinetes de António Costa e do ministro da tutela, Pedro Marques, confirmam que “não há contrato porque [Diogo Lacerda Machado] não tem atuado a título profissional, tem atuado pro bono como representante pessoal do primeiro-ministro”.

É preciso acrescentar que, na negociação da privatização da TAP, a Parpública já é representada pela sociedade de advogados Vieira de Almeida. E que, além de amigo de Costa (do qual foi secretário de Estado da Justiça no Governo de Guterres), a pessoa em causa – jurista brilhante e empresário de sucesso, ao que se diz, cuja seriedade também não está aqui em causa – é administrador da Geocapital, empresa de Stnaley Ho, milionário chinês. Tal como é chinesa a HNA, que entrou com capital na TAP. Geocapital essa que há 10 anos comprou uma empresa no Brasil em parceria com a TAP, num negócio que se revelou “ruinoso”. 

Em questões de representação do Estado – como é o caso desta insólita intervenção de Diogo Lacerda Machado – há formalidades que não se podem dispensar. Por uma questão de autoridade, respeito e proteção da posição do próprio Estado. Sob pena de ficarem a pairar suspeitas de amiguismo e clientelismo.

paula.azevedo@sol.pt