John Kerry aproveitou a visita do presidente dos EUA Barack Obama para se reunir ontem com as equipas de negociadores do governo da Colômbia e da guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O secretário de Estado dos Estados Unidos da América reuniu-se em separado com cada uma das delegações. É a primeira vez que um alto responsável dos EUA se reúne com dirigentes da mais antiga guerrilha marxista colombiana. Este processo de negociações dura há mais de três anos e a guerra na Colômbia entre guerrilheiros e governo arrasta-se há mais de meio século. As FARC foram constituídas a partir de guerrilhas de camponeses liberais que se revoltaram depois do assassinato do líder liberal Jorge Eliécer Gaitán, a 9 de abril de 1948. Posteriormente, grande parte dessas guerrilhas radicalizaram-se e aderiram ao comunismo. Depois da ocupação pelo exército colombiano da chamada república da Marquetália, espaço independente no meio do país gerido por unidades de autodefesa camponesa, entre 18 de maio e 22 de junho de 1964, os sobreviventes da batalha formaram as FARC, dirigidas por Manuel Marulanda, conhecido como Tirofijo, falecido em 2008.
As FARC têm hoje cerca de 10 mil homens armados no terreno e atuam num conjunto de frentes. Atingiram o seu máximo poder militar em 2001, altura em que se calculava terem cerca de 20 mil homens armados. O seu poder militar diminuiu muito desde o começo do Plano Colômbia e ações subsequentes, em que os EUA, a coberto de combaterem os traficantes e cultivadores de cocaína que atuavam em território nas mãos da guerrilha, fizeram um conjunto de ações militares contra os principais destacamentos guerrilheiros e conseguiram liquidar muitos dos seus líderes: Raúl Reyes, Alfonso Cano e Iván Ríos, entre outros.
Esta tentativa de obter a paz é já o terceiro processo que governo e guerrilha encetam.
Em 1984, as FARC fizeram um cessar-fogo e concorreram às eleições com a União Patriótica. Centenas dos militantes, deputados e candidatos presidenciais do grupo foram posteriormente assassinados por forças paramilitares.
Em 1998, o recém-eleito presidente Andrés Pastrana criou uma zona de distensão, desmilitarizada, do tamanho da Suíça, para que guerrilha e governo negociassem a paz. O processo falhou e a guerra ampliou-se com o novo presidente Álvaro Uribe, que apostou tudo na guerra. É só com o governo de Santos Calderón, e com a mediação de Cuba, que o processo de paz é retomado e faz sensíveis avanços.