No Porto, a nova líder do CDS anunciou que está “disponível para a renovação do apoio” ao independente Rui Moreira, que por sinal governa o Porto escorado numa aliança tácita com o PS e tem o responsável socialista da região, Manuel Pizarro, como seu vice-presidente. Ou seja, Rui Moreira já conta, à partida, com o apoio do CDS, agora oficializado por Cristas, e do PS, pois Pizarro já avisou que “ninguém entenderia que concorresse contra Rui Moreira”. O que significa que, nas autárquicas do próximo ano, será mínimo o espaço de afirmação de um candidato do PSD (já aí reduzido a 21% em 2013).
Em Lisboa, onde a esquerda tem estado no poder ao longo de 20 dos últimos 26 anos, Cristas pré-anunciou “uma candidatura forte, ambiciosa, mobilizadora”, deixando entrever que ela própria a protagonizará. Ora, o surgimento de duas candidaturas separadas, do PSD e do CDS, em Lisboa equivale a dar de bandeja ao PS uma vitória ampla e fácil. Fernando Medina já terá enviado a Cristas um agradecido ramo de rosas vermelhas.
Com esta estratégia autárquica, o CDS derrota à partida o PSD em Lisboa e no Porto. Mas o próprio CDS arrisca-se a desaparecer do mapa do Porto. E em Lisboa, onde Portas já ficou reduzido a 7,6% nas autárquicas de 2001, a votação de Cristas pode ficar longe de compensar os riscos políticos que corre.
Quem não tem vida fácil pela frente é, seguramente, Passos Coelho. Deixou construir na opinião pública a imagem de que continua, inconformado, a olhar mais para o passado do que para o presente. Está em pública falta de sintonia com o novo e popular Presidente da República, que dia a dia reforça a cooperação e o apoio institucional ao Governo socialista. Defronta um 1.º-ministro que é um verdadeiro artista em encenações políticas, para agradar ora à esquerda ora à direita. E ainda vê a nova liderança do CDS a tentar isolá-lo – com tudo isso, Passos precisa de muita resistência, sangue frio e capacidade para manter o PSD unido e mobilizado. Conseguirá?