Por entre a catadupa de informações, há uma que é perturbante e que nos obriga a refletir mais do que as outras: os autores destes crimes não são estrangeiros que vieram de fora das fronteiras da Europa de propósito para matar. Pelo contrário, nasceram, cresceram e vivem há mais de 20 manos na Bélgica e em França, ou seja, são europeus.
Professam uma religião diferente da maioria dos europeus, a muçulmana, mas são cidadãos europeus como qualquer um de nós. Vivem em bairros onde predomina essa comunidade, em que os vizinhos, quando interpelados por jornalistas, se manifestam incrédulos perante o horror dos atos que praticaram pois até aí eram pessoas vulgares, iguais a nós.
Este dado não pode continuar a ser tratado com displicência, nem com o discurso condescendente de que tiveram dificuldade em se adaptar, ou que se revoltaram por não terem as mesmas oportunidades na vida que as populações dominantes. Um discurso, no fundo, igual ao que fez esta semana Miguel Tiago, deputado do PCP, no Facebook: «Tal como a pobreza, a fome, o desemprego, os baixos salários, a criminalidade, a guerra, a degradação cultural, artística, social e ambiental, também o terrorismo é resultado da ação dos nossos governos».
Não é com este espantoso discurso que desculpabiliza o terrorismo e o coloca ao mesmo nível de flagelos como o desemprego, a fome e a guerra que vamos a algum lado.
É óbvio que a Europa vai ter de abdicar ainda mais da sua liberdade de circulação e privacidade de em favor de um reforço da vigilância e da segurança – por muito que isso nos custe a todos. Tal como é óbvio que tem que haver normas especiais em Estados de Direito quando se trata de prevenir, investigar e punir o terrorismo.
Por outro lado, é hora de impor regras, por forma a que certas comunidades, como as muçulmanas, sejam obrigadas a respeitar e a conviver com os valores e princípios que distinguem os países da Europa, nos quais vivem por sua opção. A forma, por exemplo, como pactuamos com o tratamento, opressivo e cerceador das liberdades individuais, que o Islão dá às mulheres em território europeu tem de acabar. E tal como pedimos contas ao Papa e aos bispos da Igreja Católica de cada país pelos crimes cometidos pelos seus sacerdotes (os abusos sexuais de menores, por exemplo), também os líderes religiosos muçulmanos têm de ser responsabilizados se não tomarem medidas e colaborarem com as autoridades. Não basta fazerem discursos a proclamar a paz e a condenar o terrorismo, é preciso agirem.