A geringonça e o capital político de Passos Coelho

Como se esperava, Passos Coelho não teve oposição que se visse no Congresso do PSD. Por uma razão simples: foi ele o líder que já levou o partido a duas vitórias em legislativas, em 2011 e 2015, e é ele, mais do que nenhum outro, quem pode levar de novo o PSD a recuperar a…

Passos Coelho tem um capital político inestimável: transmite uma imagem de seriedade e capacidade para ultrapassar adversidades e situações de crise. Foi ele quem evitou a bancarrota, quem pôs as contas do Estado no rumo certo, quem libertou o país da troika e do prolongamento da assistência financeira. O reverso desta medalha é a política de austeridade a que Portugal teve que se sujeitar nos últimos anos e que colou a Passos o rótulo de um político capaz de impor sacrifícios e reduzir o nível de vida dos portugueses com alguma implacabilidade e frieza.

Mas, ao colocarem estas duas facetas nos pratos da balança, os eleitores – ainda com a memória viva dos cinzentos e pesados anos da troika – deram a Passos em outubro uma imprevista vitória nas legislativas: curta, insuficiente, mas indiscutível. O que demonstrou a força do seu capital de confiança.

Esse capital político, no entanto, só jogará a seu favor no caso de a aliança das esquerdas se desfazer e serem convocadas, a prazo de um ano a ano e meio, legislativas antecipadas. Reconheça-se que não é fácil, ao Governo de António Costa, sujeito ao colete de forças de Bruxelas, do défice e da dívida, manter por muito tempo o PCP e o BE satisfeitos com o restritivo balanço das políticas da ‘geringonça’. E empenhados em participar numa governação norteada pelo Programa de Estabilidade e pelo Tratado Orçamental. Jerónimo e Catarina vão dando, cada vez mais, sinais dessa incomodidade.

Mas se a ‘geringonça’ não se desmantelar até às autárquicas de dezembro de 2017 – tendo o PSD já praticamente perdidas, à partida, as câmaras do Porto e de Lisboa –, então Passos corre o sério risco de uma derrota autárquica o forçar a sair da liderança.

O futuro depende mais da resistência da  ‘geringonça’ do que dele próprio e do seu capital de confiança. É, aliás, o que acontece na maior par te das vezes na vida política.