Aguiar-Branco e João Soares

1. Aguiar-Branco chamou à pedra, no Congresso do PSD, os atrevidos que levantaram a voz contra Passos Coelho. A José Eduardo Martins propôs uma candidatura à Câmara de Lisboa e a Pedro Duarte o desafio de se chegar à frente no Porto.

Eis o argumento: «No PSD quem quer ser barão vai a votos. Não se passa de praça a general sem antes mostrar o seu valor, e os autarcas são os generais do nosso partido». Um ponto de ordem. Que currículo tem o senhor Aguiar-Branco para mostrar? O que o levou a ser considerado ele próprio um barão do PSD? A que câmaras terá ele concorrido? O que fez de relevante?

2. O país, hipócrita e comezinho, exaltou-se com as ameaças de João Soares. Gostamos de Eça, exaltamos os duelos e os cavalheiros de honra, criticamos um grupo de gente que faz pela calada o que critica publicamente, mas depois somos também os que gritamos contra os fazem as coisas de outra maneira. Não defendo João Soares, absurdamente infeliz e um pouco infantil no que escreveu.

Se eu fosse Augusto M. Seabra, esperava-o à porta de casa ou do ministério e dava-lhe um murro. Não por me ter ameaçado com chapadas (assunto sem importância e com graça), mas por ter falado em alcoolismo. Isso não se faz em nenhuma circunstância. Curioso que disso ninguém deu conta. E isso tornava-o aos meus olhos indigno de ser ministro. António Costa também achou. Espero com sinceridade que as chapadas tenham sido secundárias na sua decisão.

3. Os documentos do Panamá alimentaram mais uma dose generosa de justas indignações.

Aproveito a ocasião para dar um abraço ao português que, entre poderosos do mundo, provou que não tem medo e vai à luta. Um exemplo de empreendedorismo. De iniciativa. Alguém que se chama Idalécio e avança assim merece consideração. E uma condecoração. 

4. Um senhor, analista do Saxo Bank, liberal selvagem de profissão, deu uma entrevista ao Observador e foi levado ao colo por quem deseja à força legitimar uma ideia de mundo.

Steen Jakobsen falou de Portugal com uma arrogância feita de certezas, marca de todos os fanáticos. Decretou que o nosso futuro será negro e que pagaremos com língua de palmo a ousadia de termos tentado matar a austeridade. Disse, também, que os políticos valem muito pouco, o que conta é o mercado, a economia. Lembrei-me do Lobo de Wall Street, de Scorsese.

5. Bruno de Carvalho conseguiu mexer com o Sporting. Voltou a ser um clube temível e capaz de disputar o campeonato, apaziguou (pelo menos à primeira vista) a dependência da banca e deixou-se de aristocracias que, no mundo do futebol, são castigadas.

Mas tem um problema. A dose de ruído é sempre tão grande, as críticas são tão constantes e o berreiro está sempre tão presente (quando não é ele, é Inácio, quando não é Inácio, é Octávio ou o presidente da Assembleia Geral) que, quando alguma coisa realmente importante tiver de ser dita, já ninguém lhe ligará. É um problema de escala. A história de Pedro e do lobo.

6. Na próxima quarta-feira, no Convento do Beato, Belmiro de Azevedo apresentará o seu think tank de Educação. Chama-se Edulog e é o contributo que pretende deixar para as gerações futuras. A educação foi sempre uma obsessão do histórico líder da Sonae – não posso deixar de notar que chega a este período da vida sem ter perdido a esperança no país que ajudou a transformar. Belmiro ficará para a história. E até ao último dia seguirá o seu caminho. Não se encontram muitos como ele.

losorio@stateofplay.pt