Benfica cai de pé na Liga dos Campeões

O Benfica ainda esteve na frente, mas o Bayern impôs o seu poderio. Os alemães seguem para as meias-finais da Liga dos Campeões. O Barcelona saiu eliminado de Madrid, frente ao Atlético.

Hoje era dia de sonhar (e muito) no Estádio da Luz. O Benfica só por uma vez virou uma eliminatória europeia na sua história – 1971/72 na vitória contra o Feyenoord por 5-1 em Lisboa para a Taça dos Campeões Europeus – mas também porque sempre que defrontaram o Bayern de Munique, os alemães chegaram à final (1975/76 para a Taça dos Clubes Campeões Europeus, 1981/82 na mesma competição e 1995/96 para a Taça UEFA). Pois bem, mas a história vale o que vale e os cerca 65 mil adeptos presentes na Luz, mesmo sem ver Jonas, Gaitán  ou Mitroglou no onze titular, acreditavam que o seu clube chegaria pela primeira vez às meias finais da Liga dos Campeões, depois de perderem pela margem mínima na primeira mão na Alemanha.

Ora a primeira parte trouxe aquilo que já toda a gente estava à espera. Quase, a bem dizer. Ou seja, a fórmula inventada por Rui Vitória para parar os craques bávaros era para manter: subir as linhas na defesa, deixá-los ter maior parte da posse de bola e contra-atacar quando possível. Pep Guardiola, que concordou como técnico português, pediu “dedicação e trabalho” aos seus jogadores. Bem sabia que não podia desiludir.

E foi o que eles fizeram:, trocaram a bola, de todas as maneiras e feitios (só faltou mesmo passar de olhos fechados), e aos 20’ já levavam 185 passes (93% certos, estatística essa seguida até ao final da primeira parte). Mas sempre que Douglas Costa (o homem em quem mais foi confiada a missão de atacar) recebia de um dos médios – Thiago Alcântara ou Xabi Alonso – lá surgiam Jardel e Lindelof para cortar. Na linha defesa quem sofreu mais foi André Almeida que só mesmo com falta é que conseguiu parar um Ribéry energético. Mas e ocasiões de golo na baliza de Ederson? Antes das primeira meia hora só Muller aos 18’ depois de um cruzamento de Lahm (que foi alternando entre extremo e lateral), e que saiu a uns metros do poste direito.

Da equipa da casa, que tinha Fejsa a liderar o meio campo porque Renato Sanches andou encolhido o tempo inteiro, só um livre (pouco perigoso) de Eliseu ao primeiro minuto e um golo. Sim sim, leio bem leitor. Numa das raras ocaisões que o Benfica conseguiu chegar-se à frente em contra-ataque, Eliseu (que sem Jonas foi o único titular absoluto dos encarnados nos dez jogos europeus esta época) picou para o meio dos centrais e Neuer (que nem foi líbero nem guarda-redes) deixou que Raúl Jiménez fizesse o primeiro aos 26’ – o segundo remate dos líderes do campeonato nacional. O Estádio ia abaixo, a eliminatória empatada e o sonho um pouco mais perto.

E os jogadores do Benfica, com a moral lá bem em cima, três minutos depois ficaram muito perto de passar para a frente no marcador. Salvio, que até então tinha tido pouco espaço para criar, conseguiu cruzar com Alabala à perna, Kimmich e o resto não chegou a tempo, deixando a bola para Jiménez que rematou fraco para as mãos de Neuer. Se entrasse, era nachos mexicanos para toda a gente, certamente.

E aquela lenga-lenga de quem não marca sofre é bem difícil de engolir, e Vidal sabe disso. Aos 37’, depois de Lahm cruzar e Ederson (este sim não esquecerá mais uma boa exibição) afastou para que a redondinha chegasse aos pés de Vidal –porque Sanches, talvez pressionado pela alta responsabilidade, não estava lá – aproveitou e fez a igualdade – repetindo o gosto ao pé, tal como tinha feito na partida em Munique. Acabava a primeira parte e o Benfica tinha agora de marcar dois golos e fazer algo que só conseguiu uma vez na UEFA: passar a eliminatória quando o resultado era 1-1 ao intervalo. Foi nos quartos-de-final da Liga Europa contra o Newcastle em 2012/2013. Para os segundos 45 minutos pedia-se menos tempo de espera e outra fórmula que quebrasse os 75% de posse de bola do Bayern e a vantagem alemã.

Era preciso um Benfica que atacasse mais, corresse mais e fizesse golos. Tudo aquilo que não se habitou a fazer frente ao Bayern. Mas aos 51’ Muller aproveitou um passe de cabeça e Javi Martínez após canto de Xabi Alonso e passou o marcador para o 2-1. O alemão entristeceu os adeptos encarnados e tornou-se no carrasco (e no melhor marcador da história do clube com 36 golos nesta competição) das equipas portuguesas: marcou à seleção nacional, ao Sporting, ao Porto e agora na Luz. E a partir daqui os homens de Pep Guardiola tiveram mais bola, Douglas Costas deixou a missão de cruzar para servir, passando a receber para rematar – enviou uma bola ao poste aos 59’.

Do lado do Benfica só uma das três substituições deu resultado: foi a de Salvio por Talisca que, de livre, rematou para a igualdade (2-2). Mas calma, a falta para o livre veio dos pés de Gonçalo Guedes ( entrou para o lugar de Pizzi) que sofreu, isolado, uma entrada de Martínez. Faltavam (só) mais dois para passar para a frente –  Luka Jovic, por Eliseu, é que não teve tempo para brilhar. Outro livre aos 84’ do brasileiro, que saiu muito próximo das redes de Neuer, fazia com que a esperança se ficasse pelos gritos de uma Luz cheia.

Fica para a história a primeira vez que o Benfica fez dois golos numa partida ao Bayern nos oitos confrontos  entre os dois embleas. Fica para a história um Estádio da Luz que não parou o apoio mesmo depois do apito final. Mas para as meias-finais seguem os alemães. Um filme que todos os portugueses, infelizmente, já estão habituados a ver.