Papéis do Panamá: Cameron defendeu-se no parlamento

Cameron confirmou ter beneficiado com offshore do pai, mas diz estar inocente das acusações

Mais de uma semana depois da divulgação dos Papéis do Panamá, as réplicas deste escândalo atingiram o primeiro-ministro britânico, David Cameron, obrigando-o a defender-se no parlamento. 

Durante a sessão parlamentar, o primeiro-ministro britânico garantiu não ter cometido qualquer irregularidade ao investir em fundos no estrangeiro, acrescentando que tudo o que tem sido dito são “acusações falsas”. Cameron afirmou ter pago na integra e dentro da lei todos os impostos relativos à venda das suas ações num fundo de investimento detido pelo seu pai, Ian Cameron.

“Este investimento foi feito no estrangeiro basicamente para poder ser negociado em dólares, como acontece com outros fundos de investimento comerciais e por isso faz sentido que tenha sido depositado num dos principais centros de transações em dólares. Eu vendi as minhas ações em janeiro de 2010 porque não queria que levantassem questões sobre um possível conflito de interesses”, defendeu-se Cameron. “Não queria que alguém pudesse sugerir que, enquanto primeiro-ministro, tive outra agenda ou outros interesses próprios”, avançou Cameron justificando que, desde 2010 – altura em que se tornou primeiro-ministro – nada tem a ver com o assunto.

As declarações não convenceram todos os presentes e a oposição não acreditou nas palavras do primeiro-ministro. “É um escândalo que os territórios britânicos tenham registado quase metade de todas as sociedades fantasma da companhia Mossack Fonseca. A verdade no centro da ‘indústria’ da fuga ao fisco”, criticou o líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, aproveitando para acusar Cameron de ser “um mestre na arte da distração”. Cameron respondeu de forma simples. “Ter dinheiro não é pecado”, disse. “Devemos endurecer a lei e mudar a cultura do investimento, de forma a impedir a evasão fiscal. Mas, da mesma forma, deveríamos estabelecer as diferenças entre os esquemas criados para reduzir os impostos de forma artificial e aqueles que têm como objetivo encorajar o investimento”, defendeu ainda no parlamento.

Desde que o escândalo rebentou, esta é a segunda vez que Cameron se defende. Na passada semana divulgou as suas declarações de impostos e rendimentos desde 2009 numa tentativa de mostrar nada ter a esconder.