Mas numa semana em que as intenções de voto foram sendo declaradas ao ponto do próprio governo reconhecer que a defesa da presidente «está difícil», Michel Temer – o homem que serve de vice de Dilma desde 2011 – parece estar convencido que faltam poucos dias para assumir a presidência do país.
Para o líder do PMDB parece já não haver dúvidas que ocupará o cargo, pelo menos de forma provisória – todas as antecipações indicam que haverá maioria simples no Senado para dar continuidade ao processo e, automaticamente, suspender a presidente durante o período em que decorrerá o julgamento.
Logo no início da semana apareceu na imprensa um áudio com o discurso de tomada de posse de Temer – episódio que Dilma considerou ser a prova de que Temer, ao lado do seu parceiro de partido e líder da Câmara de Deputados Eduardo Cunha, lidera «a maior fraude jurídica e política da história».
No áudio, divulgado «por acidente quando tentava enviar para um amigo avaliar» – explicou o próprio Temer depois de se saber que a gravação tinha sido enviada para um grupo de deputados –, o ainda vice-presidente diz querer liderar um «Governo de salvação nacional» que tentará limpar o «descrédito internacional» causado pelo Executivo de Dilma.
Um embaraço que não impediu Temer de prosseguir com as preparações. A Folha de São Paulo escrevia ontem que Temer «promoverá mudanças na equipa ministerial e anunciará medidas para sinalizar que não entende a sua ascensão ao governo como transitória». E, a par de outros meios de comunicação, avançava como novidade a redução do número de ministérios dos atuais 31 para um máximo de 17 – medida vista como aproximação ao principal partido da oposição, o PSDB, que ainda não garantiu formalmente o apoio parlamentar a um futuro governo de Temer.
Ao mesmo tempo começaram também a ser avançados alguns nomes que poderão fazer parte do novo Executivo, sendo que uma das prioridades de Temer é ‘chamar’ outros partidos para a sua nova aliança governamental, de forma a conseguir ser sustentado parlamentarmente.
José Serra pode regressar
Armínio Fraga, presidente do Banco Central do Brasil no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, é o «sonho» para a pasta das Finanças, embora o homem que também tem nacionalidade norte-americana já tenha manifestado a intenção de ser deixado de fora da polémica. Outro nome forte é o de José Serra, atual senador do PSDB que foi candidato presidencial na primeira eleição de Dilma e agora poderá regressar como ministro da Saúde. Outra novidade importante será a presença de dirigentes do DEM, partido afastado da governação desde a chegada do PT ao poder, há 13 anos. O senador Ronaldo Caiado e o deputado José Carlos Aleluia são apontados às pastas da Agricultura e Minas e Energia, avançava ontem a Globo.
«Não há tempo para fazer programas de governo. Temos de procurar pessoas experientes, que criem consensos políticos e saibam o que se faz em cada área», explicava também à Globo um fonte do PMDB. Mas mesmo sem programa de governo, Temer quer marcar rapidamente diferenças face ao Executivo de Dilma. E, segundo a Folha, a primeira (e simbólica) medida pode passar pelo estabelecimento de uma idade mínima para os trabalhadores poderem reformar-se.
Segundo a colunista Mônica Bergamo, esta medida serviria para mostrar que Temer contará com uma maioria de apoio na Câmara de Deputados ao mesmo tempo que representaria um sinal para os mercados financeiros de que o novo Executivo se empenhará em combater a crise.
Temer não parece apenas certo que Dilma será suspensa, parece acreditar que será mesmo destituída. E se conseguir base parlamentar de apoio pode mesmo vir a ser presidente até ao final do mandato, em 2018.