Antes pelo contrário. Costa respondeu com enfado e arrogância, com o ar de quem tudo pode e tudo manda: “Vamos lá a ver. O Diogo Lacerda Machado é o meu melhor amigo há muitos anos, temos uma relação muito próxima”. E depois?! Isso quer dizer que também vai meter os filhos, primos e afilhados – todos próximos e da sua confiança – a negociar em nome do Governo?
Costa devia ser o primeiro a perceber que não se tratam as negociações do Estado como se tratam os assuntos com os amigos à mesa do café. “Nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo” – não foi ele próprio quem recordou esta máxima a João Soares? E agora é ele quem transfere o Estado para a mesa do café?
Mas há um outro paralelo que este episódio traz, inevitavelmente, à colação. No início de 2010, quando o SOL começou a revelar os contornos do envolvimento da dupla José Sócrates/Armando Vara no processo Face Oculta, António Costa fez afirmações lamentáveis, em semanas sucessivas, no programa Quadratura do Círculo, de que era comentador residente. Lançou ataques inacreditáveis à liberdade de informação e revelou a sua intolerância contra a imprensa crítica e não alinhada, defendendo Vara e Sócrates para lá de todas as evidências, sem um pingo de vergonha. Há quem tenha memória.
Costa alega que Diogo Lacerda Machado é o seu melhor amigo, à semelhança do que Sócrates faz com Carlos Santos Silva. Num caso como no outro, são amizades que convinha manter à distância dos assuntos do Estado.