O caldo estava entornado. O grupo chegou a perder milhares de assinantes no canal, mas no estado atual da sociedade brasileira o ódio cresce à mesma medida do amor e os números são hoje superiores ao que eram antes da polémica. «Vagabundo petista» passou a ser dos nomes mais simpáticos dirigidos pelos opositores do PT a Gregório Dudivier, o fundador do Porta dos Fundos, que já assumira previamente o seu alinhamento com os que acham que este processo de destituição não passa de um «golpe».
Em conversa com o SOL, Duvivier reconhece que são tempos difíceis para fazer humor no Brasil: «Quando você vê, o ódio acabou contaminando o seu humor. E é muito difícil você não ter ódio nos dias de hoje». Nem terá sido o caso, porque como fez questão de responder aos críticos, através do Facebook, o guião do episódio polémico «é do Fabio Porchat – que, diga-se de passagem, votou no Aécio» contra Dilma em 2014.
Humor à parte, Duvivier promete, tal como Dilma, levar a luta até ao fim: «O lado de cá, vestido de vermelho, não se vai calar», avisa ao lembrar que as manifestações transmitidas no mundo não são apenas em defesa do impeachment. O humorista defende que «na verdade, este impeachment é uma eleição indireta, como a gente tinha na ditadura, uma eleição feita pelo congresso». Algo que os defensores de Dilma não vão «tolerar», pois «as diretas no Brasil foram duramente conquistadas».
Para cúmulo, defende o ator, essas indiretas «vão tirar Dilma para assumir um Michel Temer ou um Eduardo Cunha, que são mil vezes mais corruptos e vão calar as investigações». Isto de um homem que diz não votar no PT, mas à sua esquerda. E que cita outro humorista para defender a sua tese. «O PT embora corrupto e, algumas vezes, com comportamentos fascistas, é, como dizia Millôr Fernandes, diferente: ‘todo o Governo é fascista, mas tem fascista que dá pão».
*com Nuno Escobar de Lima