Dez anos de gelo
Foram dez anos de gelo e de costas voltadas. E o filho, que desde cedo andava pelo então Estádio das Antas a vender cadeiras de plástico, não perdia a oportunidade para dar alfinetadas ao pai, que por essa altura vivia com Filomena, a segunda mulher e secretária de uma vida. Uma crise na bola, opções erradas e falta de títulos faziam Alexandre saltar para a ribalta nos ataques ao pai. Quando Sporting, Boavista e outra vez o Sporting foram campeões em 2000, 2001 e 2002, lá apareceu o veneno de Alexandre: «Como portista, não estou habituado a ver o clube a lutar pelo 3.º lugar, sobretudo na época em que teve o maior orçamento da história do futebol português. É milhão a mais para resultados a menos». Mas Alexandre, que alguns amigos garantem não ser um ‘menino do papá’ educado no Colégio Luso-Francês, uma excelente escola das Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, fez-se de novo à vida e criou uma nova empresa para o mesmo negócio de jogadores.
A Energy Soccer nasceu, cresceu e está agora no olho do furacão pelas comissões que recebe da SAD do Porto. No site da empresa pouco se diz sobre negócios, clientes e jogadores. E tem alguma ironia quando justifica a ocultação dos seus jogadores por razões de ética. É por isso que blogues portistas e outros inimigos do peito andam de lupa na mão à procura de clientes e dos dinheiros da Energy Soccer. O famoso portal Football Leaks é um deles. Vejamos as contas à moda do Porto: «Alexandre terá recebido cerca de 430 mil euros por serviços de intermediação referentes a quatro negócios distintos. Sobre a transferência de Carlos Eduardo, em 2013, a Energy Soccer faturou 123 mil euros aos dragões, além de 84 mil cobrados ao Estoril. Aquando da mudança de Christian Atsu para o Chelsea, no mesmo ano, os serviços ficaram por 184 mil euros. No caso de Rolando, a Energy Soccer participou nos dois empréstimos do central para Itália: pela cedência do central ao Nápoles, em janeiro de 2013, recebeu dos dragões 123 mil euros, e na época seguinte, em que Rolando foi emprestado ao Inter, a SAD pagou 75 mil euros pelos serviços de intermediação – os italianos pagaram 60 mil euros. Os serviços prestados ao FC Porto nestes quatro negócios chegaram aos 430 mil euros», revela o Football Leaks.
Adversidade reaproximou-os
Mas os números variam e há quem fale em dois milhões de euros, verba que Alexandre nega de forma veemente. Seja como for, pai e filho estão hoje a viver dias felizes depois da zanga que durou uma dezena de anos e que acabou por uma razão bem triste. Alexandre teve um cancro no pulmão em 2011, foi operado no Hospital Santos Silva e, face à adversidade, o pai esqueceu dez anos de conflito e fez as pazes com o filho que lutava pela vida. Um filho que vive ao pé da Ponte da Arrábida, anda à procura de casa na Foz e andou nas revistas cor-de-rosa em Janeiro deste ano quando se divorciou da mãe dos dois filhos, Marisela: «Alexandre Pinto da Costa e Marisela dividem património de milhões.
Estiveram casados 16 anos mas a separação foi tudo menos pacífica. O casal lutou na justiça pela guarda dos filhos, Maria de 13 anos, e Nuno, de 19, bem como pelos bens adquiridos», noticiou o Correio da Manhã.
Romances à parte, pai e filho estão mais unidos do que nunca e este fim de semana, na eleição de Jorge Nuno para mais um mandato à frente do FC Porto, lá andava Alexandre de um lado para o outro a controlar os sócios que foram ao Dragão votar. Uma vigilância que não escapou a Manuel Serrão, sócio do clube, comentador televisivo, empresário e colega de escola de Alexandre, a quem costumava convidar depois das aulas para jogarem ténis em sua casa. Mas Alexandre, que tem um enorme respeito pelo pai, está de alma e coração com Pinto da Costa nesta batalha que o presidente enfrenta depois de três épocas desastrosas e muitos milhões gastos em jogadores. E está com certeza a registar quem é quem na batalha. Como diz Fernando Póvoas, o médico que o conhece de criança, «tem uma grande memória, como o pai». Um sério aviso à navegação portista.