Ricardo Salgado e Deus

1. Os vários perfis biográficos sobre Ricardo Salgado são unânimes num ponto: o banqueiro é fervorosamente religioso, não falta a uma missa de domingo e leva muito a sério as suas obrigações com Deus.

Não quero fazer qualquer tipo de humor ou ironizar sobre uma informação tão perturbantemente interessante. Sabemos que a cabeça comanda todos os nossos desejos e medos, os visíveis e também os invisíveis, mas não consigo imaginar o que lhe passará pela cabeça quando se ajoelha. O que Lhe dirá? Queixar-se-á dos homens?

2.António Costa escolheu Mário Centeno como ministro das Finanças. Por nele confiar, certamente. Mas também por uma óbvia convicção: o poder político tinha, de uma vez por todas, de ser resgatado do poder financeiro e económico. Escolheu então um perfil menos afirmativo e ofereceu o seu lado direito a governantes mais políticos e menos tecnocratas.

Será inevitável que acabe por acontecer o que o primeiro-ministro ambiciona. Para já, não passa de um desejo, a realidade continua a ser esmagada por folhas de Excel e figuras que não foram eleitas. Não parece existir mais mundo para lá dos planos B, da capitalização de bancos, dos acionistas que entram e saem, das offshores, do governador do Banco de Portugal, de Teodora Cardoso, de Draghi, das agências de notação ou da dívida pública.

A política continua a não pertencer aos políticos. E o mundo não ficou melhor por causa disso. Na verdade, ficou muitíssimo pior.

3. Rui Rio regressou. Sem surpresa. O homem tem ambição de poder e uma ideia inflacionada de si próprio, básicos princípios para se avançar. Já teve hipótese para isso, não o fez. Mantém a pressão alta, mas sem nenhuma ideia nova; problema não apenas seu, é comum à maioria dos que têm ambições, uma lástima.

O que nos acabou de dizer? Que o país precisa da regionalização, que esse é o problema central que tem de ser atacado. Outra vez a regionalização, palavras tão requentadas como um jantar da véspera aquecido no micro-ondas.

4. Na sessão de apresentação do Edulog, think tank de Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, foi convidado o professor John N. Friedman. Conceituado nos Estados Unidos, conselheiro do Presidente Obama e docente na Universidade de Brown, falou acerca da importância dos bons e maus professores. Fê-lo sem recorrer a ‘achismos’, comunicando a partir de estudos concretos que indicam qual o peso e influência de um professor para a economia concreta e a vida de cada um dos alunos a quem ensina.

E fê-lo falando com o auditório, oferecendo exemplos percebidos por todos, tendo a capacidade de ‘passar’ o que sabe ao maior número de pessoas possível e não apenas a uma elite preparada para o ouvir.

Um problema da Educação em Portugal. Uma boa parte dos académicos portugueses está mais preocupada em perpetuar-se em linguagens codificadas (que provam o quanto são inteligentes, brilhantes e únicos), e menos com a possibilidade de ‘contaminar’ positivamente a sociedade com mais e melhor conhecimento.  

5. Como pode um país com uma Cultura tão rica e uma elite tão preparada ter uma classe política tão ridícula como a que vimos na votação de destituição da Presidente Dilma?

6. Em 2015, casaram-se mais portugueses do que em 2014. Não acontecia desde 1999. E com o efeito esperançoso de Marcelo Rebelo de Sousa aposto que o número duplicará em 2017. Dou um prudente desconto, em 2016 não espero bons resultados: há Europeu de futebol e Jogos Olímpicos. 

luis.osorio@sol.pt