A subtileza do provérbio está na distinção entre “falar” e “dizer” que, tendo semelhanças, são ações bem diferentes. Como todos bem sabemos, pode-se falar muito e dizer muito pouco ou quase nada. Sendo subtil, esta é uma diferença substancial.
E, ao modificar o provérbio, o seu autor altera também o seu efeito, se considerarmos como verdadeira a curiosa definição de “provérbios” dada por José Saramago no Ano da Morte de Ricardo Reis – “fórmulas de sabedoria condensadas, para uso imediato e efeito rápido, como os purgantes”… Esta frase convida-nos, assim, a parar por momentos para pensar sobre o seu significado. E esta “proposta” de um novo provérbio visa mostrar uma evidência que, bem vista, é óbvia – é que “entre falar e fazer”, entre dizer que se vai concretizar um determinado projeto ou alcançar qualquer objetivo e a sua concretização, “há muito que fazer”, há uma longa cadeia de ações a empreender. Entre dizer que vou construir uma casa, exceto se for uma casa de sonhos e vento como a do poeta, e fazê-la, tenho muito que fazer: tenho de pensar como a quero, identificar quem a desenhe tal como eu a idealizo, definir que materiais são necessários, fazer um orçamento, contratar quem se encarregue de a construir… – há mesmo muito a fazer.
Para além de tudo isto, há ainda que definir o local onde pretendo construir a minha casa. Tenho de decidir se a quero numa rua com muito trânsito, onde possa chegar à janela e ver quem passa; se a quero no meio da serra para, à noite, observar as estrelas; se à beira da praia, para ser embalada pelo som das ondas; ou se prefiro erguê-la numa vasta planície de onde contemple o infinito.
Aquilo que eu vir da minha janela definirá em muito a forma como me vou sentir, aquilo que vou pensar quando passar a soleira da minha porta, aquilo que vou ser. Porque poderei ser apenas mais uma gota no vasto oceano ou a rosa única que nasce num planeta deserto e distante. Poderei certamente ser do tamanho daquilo que vejo…