A história é feita de acasos e a do Real com muitos acasos. O último tem a ver com Keylor Navas. Na dança de guarda-redes na baliza dos blancos, saía Casillas para o Porto, chegaria De Gea do Manchester United e Navas ficaria no banco. Só metade ficou resolvido e o Dragão ficou a ganhar um dos mais experientes guarda-redes do mundo. Mas em Madrid, a história era outra.
A assinatura de De Gea demorou e a sua inscrição saiu lenta, passou a meia noite e não pôde ser jogador do Real Madrid por uns minutos de atraso. Descansaram os adeptos do Atlético, que o viram crescer e formar-se nas suas escolas e não o queriam no rival, e descansou o costa-riquenho que brilhou no Mundial e por isso deu nas vistas – mas Navas jogava há muito no Levante, depois de ter sido emprestado pelo Albacete. Ficaram todos a ganhar. Porque com ele na baliza o Real leva 19 jogos seguidos sem sofrer golos na Champions.
Isto aliado aos números de Zidane no Bernabéu, desde que substituiu Benítez, é uma defesa quase insuperável: 10 vitórias, uma derrota, 43 golos e sete sem sofrer. Restava esperar o ataque, com Ronaldo de regresso – o português, claro, bateu mais um recorde (entrou no top-20 dos jogadores com mais jogos nas competições europeias 133; 126 como titular. O City, um desistente convicto de todas as provas, a última foi no campeonato e foi goleado pelo Southampton (4-2), já tinha saído da Taça de Inglaterra da mesma maneira (5-1 do Cehlsea), para apostar tudo na Champions viu-se impotente perante a montanha branca – sem sequer um Aguero excitante como o é nas provas inglesas. Já tinha feito história, nunca a equipa inglesa tinha chegado aos quartos-de-final da prova, quanto mais às meias-finais. Mas parece pouco para tanto dinheiro do xeque Mansour.
Daí ao “golo” de Bale, foi um acaso. Tão acaso que a UEFA atribuiu o golo a Fernando, na própria baliza. Mudou de opinião e deu a infeliz marcação ao ex-portista. Foi a segunda vez que o Real beneficiou de um autogolo numa meia-final. Sorte de uns, azar de outros e bem cedo, logo aos vinte minutos.
O fracasso de Zidane parecia estar de saída. Foi a palavra que o francês utilizou para definir um eventual falhanço na presença na final de Milão. O antigo jogador sabia do que estava a falar, ele que deu a nona Champions ao Real com aquela meia-volta digna de Nureyev. Com o campeonato quase nas mãos do Barça (e na fila a seguir está o Atlético) e com a saída mais humilhante da Copa do Rei (devido à má inscrição de um jogador, Cheryshev) só o 11.º título na prova pode servir de escape a uma época que tem tudo para ser esquecida.
Sem forças para o Real, foi Bale a atirar de novo ao ferro, na segunda parte. Pellegrini, que abdicou de tudo, cedeu de vez a cadeira, ele que “culpou” Guardiola com a queda de forma da equipa. Foi uma bomba que durou até ontem. Agora, o chileno já está mais solto, é livre, condição que se viu privado desde Munique, com o anúncio da chegada de Pep. Zidane irá à procura de não fracassar em San Siro.