Cerca de 100 pré-avisos de greve em dez anos marcaram a atividade do porto de Lisboa. E, de acordo com António Belmar Costa, presidente da Associação dos Agentes de Navegação de Portugal (AGEPOR), fizeram com que «os terminais portuários da capital perdessem cerca de um terço da atividade que desenvolviam». Crescer? Não. De acordo com o dirigente, a atividade no porto da capital portuguesa apenas diminuiu e, mesmo com um acordo, pode demorar anos a voltar ao que era: «Lisboa perdeu a confiança dos armadores. Pode levar anos a ser o que era».
Uma posição que Pedro Queiroz, diretor-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), reforça, esclarecendo que estes operadores «não estão a fornecer cotações de matérias-primas para o mercado português, devido à instabilidade da situação criada em Portugal”. E alerta: «As que são disponibilizadas apontam para acréscimos de preços que nada têm a ver com os preços do mercado mundial».
Uma situação que pesa na soma dos prejuízos já que, em dezembro de 2015, alguns armadores chegaram mesmo a abandonar o porto de Lisboa para fugirem da greve dos estivadores, que entrou em vigor a 14 de novembro.
Por esta altura, somavam-se duas importantes baixas na atividade deste porto: o grupo dinamarquês Maersk, maior armador mundial, anunciou que pretendia abandonar a atividade no porto da capital e a alemã Hapag-Lloyd trocou o porto de Lisboa pelo de Leixões.
Quanto custa parar o porto?
Os elevados prejuízos provocados, principalmente na indústria agroalimentar, levaram o governo a impor serviços mínimos, mas este não é único foco da preocupação de quem acompanha de perto a situação que se vive no porto de Lisboa.
Fonte ligada ao setor garante que «está tudo parado». «Um contentor que chegou no dia 19 foi descarregado apenas esta segunda-feira. E isto levanta grandes problemas porque, mesmo que os navios sejam desviados para o porto de Leixões, é preciso ter em conta que ir buscar a mercadoria vai custar o triplo do que custaria se fosse descarregado no porto de Lisboa». Uma situação «que afeta tudo e todos e que, no fim, faz com que os produtos fiquem mais caros».
A soja, fundamental para a alimentação animal, já subiu 15%. E transportar as cargas do porto de Leixões para Lisboa custa o triplo na fatura final. Uma situação que, além de colocar em causa a credibilidade de Portugal, cria outros problemas e riscos. Por isso, Pedro Queiroz alerta: «Já há recusa de alguns países em mandar material para cá porque não sabem quanto tempo vão ter os navios parados. Navios parados custam dinheiro. E é necessário não esquecer que mesmo para as empresas que exportam há problemas. As nossas empresas têm contratos e, se os navios não carregam, os contratos não são cumpridos. Abandonam Portugal».
Greves desde 2014
A insatisfação e as greves têm-se multiplicado nos últimos anos. Esta última começou a 20 de abril e vai prolongar-se até ao fim, de maio. O principal motivo: a possibilidade de os operadores dos portos incluírem nas escalas trabalhadores que não fazem parte da Empresa de Trabalho Portuário.
De acordo com a Associação dos Operadores de Lisboa, desde que esta nova greve começou, cada dia custou, em média, 300 mil euros. Prejuízos elevados que relembram o que aconteceu em Portugal, em 2012, altura em que a greve em vários portos custou cerca de 1,2 mil milhões de euros. O governo tenta agora que as partes se voltem a sentar na mesa de negociações.