A segunda mistificação é a de que foi preciso um Governo de esquerda para “virar a página da austeridade”. A austeridade acabou? Então e o congelamento de carreiras e salários na Função Pública, que vai persistir até 2019, pelo menos? Então e o enorme aumento de preço da gasolina e do gasóleo, que afeta todas as famílias, incluindo as mais pobres? Então e os níveis de desemprego que quase não diminuem nos próximos anos? Então e os cortes no investimento de empresas públicas, a redução de gastos na Saúde e na Educação prevista no ‘anexo secreto’ do Programa de Estabilidade? Então e os impostos que não baixam? É isto o fim, o virar de página da austeridade? Pois, pois.
O PCP tem noção clara destas duas mistificações. E daí a sua crescente incomodidade com as políticas do Governo PS, com as ‘cedências a Bruxelas’ e, sobretudo, com a sensação de António Costa os ter metido no bolso, a eles e ao BE.
É por isso que enquanto Jerónimo de Sousa faz de polícia bom e assegura que, com este Governo, “se abriu uma janela de esperança”, Arménio Carlos faz o papel de polícia mau. E volta a zurzir na obsessão do “cumprimento das metas do défice”, na previsão “claramente inaceitável” do desemprego de 11,3% em 2017, e avança com a CGTP para uma semana de greves e manifestações, de 16 a 20 de maio. É o modo de o PCP disfarçar as suas cumplicidades e contradições.
O problema é que as mistificações e os disfarces nunca duram muito tempo.