No Brasil de hoje nada pode ser dado como garantido mas, acreditando na palavra do presidente do Senado, Dilma Rousseff já não acabará o dia na presidência. “O objetivo é concluir a sessão ainda na quarta-feira”, disse ontem Renan Calheiros ao anunciar a votação para as 19h locais, 23h em Portugal continental.
Mas Calheiros também diz esperar que pelo menos 60 dos 81 senadores se inscrevam para usarem da palavra durante a sessão em que a câmara alta do Congresso brasileiro decidirá se dá ou não aval à abertura de um processo de destituição da presidente, aprovado na Câmara de Deputados em abril. E cada senador deverá ter 15 minutos para falar, o que pode arrastar a sessão para lá das 10 horas previstas pelo responsável.
Seja a que horas for, bastará uma maioria simples, de 41 senadores, para o processo ser formalizado e Dilma ser suspensa de imediato das suas funções, sendo substituída interinamente pelo seu vice e rival, Michel Temer. A suspensão que terá a duração máxima de 180 dias, o que implica que, se o julgamento não tiver sido finalizado a 8 de novembro (ou 9, caso a votação venha a acontecer apenas na quinta-feira), a líder do PT voltará ao cargo e daí assistirá ao veredicto dos senadores.
É esse o cenário mais provável, reconhecido até por dirigentes petistas e pela forma como Temer não disfarça as negociações para a formação do próximo executivo (ver pág. 25). Todos os inquéritos feitos pela imprensa local convergem na existência de pelo menos 41 votos a favor do impeachment, apesar das diferenças registadas: a “Folha de São Paulo” antevê 51 votos; o “Estadão” e a “Globo”, 50.
Curioso é o facto de nenhuma das sondagens dar aos apoiantes do impeachment a maioria qualificada que se exige para o derrube definitivo da presidente. São 54 os votos necessários para, no final de todo um processo que promete arrastar–se até aos últimos meses do ano, se considerar Dilma culpada de “crimes de responsabilidade”, afastando-a do cargo de chefe de Estado e proibindo-a de exercer qualquer outra função política por um período de oito anos.
E se para já não existe esse número de senadores disposto a garantir que votará contra Dilma, a “Folha” alerta ainda para o facto de alguns não garantirem o apoio ao impeachment, agora anunciado, durante todo o processo. Na antevisão que faz da votação final, a “Folha” encontra “apenas” 43 senadores convencidos a votar pela destituição de Dilma, menos 8 que os votos “sim” anunciados para hoje e menos 11 que os necessários para condenar definitivamente a primeira mulher a presidir ao país.