Liga. Mano a mano até ao fim

Maio de 1974. O Sporting chega à 30.ª e última jornada do campeonato nacional da I divisão na liderança, com mais um ponto do que o Benfica, mas com desvantagem no confronto direto, fruto de duas derrotas em dérbis (2-0 na Luz e 5-3 em Alvalade). Os leões de Mário Lino estavam, por isso, obrigados…

Três dias depois do empate do Benfica em Setúbal (2-2) – os encarnados até estiveram a vencer por 2-0, mas permitiram a igualdade no marcador -, o Sporting acabou por conquistar o 14.º título do palmarés, após um triunfo expressivo em casa do Barreirense (3-0).

Com o primeiro campeão em democracia a vestir-se de verde e branco, caíram por terra os planos do ‘tetra’ na Luz, numa época em que o argentino Hector Yazalde bateu o recorde de golos no campeonato (46) e o portista Pavão deixou Portugal em choque ao perder a vida de forma trágica num jogo entre o FC Porto e o V. Setúbal, nas Antas.

Quarenta e dois anos depois, a história repete-se, com os dois rivais lisboetas a disputarem novamente o título na última jornada da I Liga, embora com papéis trocados. Desta vez, é o Benfica quem segue na frente da tabela, com mais dois pontos do que o Sporting, na corrida ao tricampeonato.

Tradição a favor das águias

A noventa minutos do apito final na I Liga, Rui Vitória é um treinador com motivos para sorrir. Não só está a uma vitória, frente ao Nacional, na Luz, de se sagrar pela primeira vez campeão nacional, como ainda pode tornar-se no técnico com melhor percentagem de vitórias no futebol português (85%). Demorou a afinar o motor, após um arranque em falso, mas o Ferrari que herdou está mais veloz do que nunca. E a meta está já ao virar da esquina.

A única esperança da equipa de Jorge Jesus está depositada nos pupilos de Manuel Machado, que têm que roubar pontos na capital para os leões poderem fazer a festa (14 anos depois do último título), desde que triunfem em Braga à mesma hora – onde foram eliminados da Taça de Portugal. O problema é que a estatística está do lado do Benfica: os insulares nunca conseguiram vencer em 16 visitas ao reduto dos encarnados, apresentando um saldo negativo de três empates e 13 derrotas.

A história também não dá alento à ambição leonina: em 81 edições do campeonato nacional, apenas por uma vez o líder à entrada para a última jornada não se sagrou campeão. Aconteceu em 1955 e até foi o próprio emblema leonino a estender a passadeira vermelha ao maior rival. Na altura, o Belenenses de Matateu liderava a prova com mais um ponto do que o Benfica e com dois de vantagem sobre o Sporting, mas um empate nas Salésias frente aos leões (2-2) permitiu aos encarnados sagrarem-se campeões nacionais no último jogo (3-0 ao Atlético) – na altura, a vitória valia dois pontos.

O ‘fantasma’ de Paulo Bento

“Temos ainda um jogo para disputar e vamos lutar até à última gota de suor”. Quem o garante é Rui Vitória. Trinta e nove anos depois do inglês John Mortimore o ter conseguido pela última vez, as águias voltam a ter o tricampeonato no horizonte. Ainda assim, o técnico do Benfica rejeita euforias. E percebe-se porquê: em 2005, comandava a equipa de juniores dos encarnados que na última ronda deixou fugir o título para os leões de Paulo Bento.

Jorge Jesus sorri, enche o peito de ar e dispara de forma convicta: “Somos a melhor equipa do campeonato”. Rui Vitória abana a cabeça, em sinal de desacordo. Certo é que o braço de ferro entre os dois rivais lisboetas promete durar até ao último minuto. O Marquês está por reclamar.

hugo.alegre@sol.pt