Quadrilhice e dor de corno

1.O ministro da Educação foi salvo com a polémica do financiamento do Estado a colégios privados. É curioso que tantos estejam a dizer o contrário. E ainda mais curioso que Passos Coelho tenha abandonado o seu recato para abraçar esta causa e defendê-la como prova de vida. Tiago Brandão Rodrigues, que parece ter envelhecido dez…

Na política vive-se de perceções e basta andar na rua para perceber o que as pessoas pensam do assunto – porque havemos de pagar a colégios quando há escolas públicas perto? Passos Coelho continua à deriva.

2.Há muito tempo que a revista Visão não esgotava em banca. Ainda ontem, no quiosque onde compro jornais, a senhora confessou-me que venderam revistas como ‘pãozinho quente’.
Fernanda Câncio a descartar-se olimpicamente do seu ex-namorado e ex-primeiro-ministro é uma ‘bomba atómica’ das manchetes. Junta quadrilhice, traição, inveja e dor de corno. Fiquei transtornado por não ter tido oportunidade de ler. 

3.A moção que António Costa levará ao próximo Congresso do Partido Socialista faz uma autocrítica em relação à fé que um dia terá tido nos mercados. Sobre a fé ou falta dela não comento; o primeiro-ministro é um feroz realista que faz jus à máxima de Cunhal: ‘a maior flexibilidade tática para a maior rigidez estratégica’.
Costa quer levar a legislatura até ao fim e decidiu travar qualquer possível ambiguidade: os seus parceiros são o PCP e o Bloco de Esquerda. Da mesma maneira que o seu caminho na Europa se fará ao lado de Tsipras (com a sedução de italianos, franceses e, mais tarde, espanhóis) contra a austeridade. 

4.Para já, terá o apoio do Presidente da República. Enquanto não for resolvido o problema da liderança no PSD, Marcelo amparará o mais possível a governação de Costa. Logo se verá depois das autárquicas. 
Paulo Rangel posicionou-se e avançará para a liderança assim que for oportuno – esta semana falou ao coração pátrio afirmando que Portugal continua a ser um país do respeitinho pelos doutores. Um tema épico que talvez não comova o senhor professor Marcelo. Esta semana juraram-me que o seu homem é José Eduardo Martins. 

5.Ouvimos e vemos. E quanto mais ouvimos e vemos menos acreditamos. E ainda menos compreendemos. Deixei de tentar perceber o que se passa no Brasil. É demasiado fora de uma lógica para mim confortável. O destino de Dilma, uma classe política corrupta, um grupo de deputados e senadores que bradam contra a corrupção mas cujas caras parecem ainda mais mesquinhas do que as daqueles que agora são acusados. Um Presidente interino que escolhe apenas homens para o Governo.

Uma dor imensa pelo destino de um país que aprendi a amar na voz de Gilberto, Chico, Caetano e Elis. No cinema de Fernando Meirelles. No génio de Niemeyer. No samba dos grandes futebolistas. No sonho de Drummond de Andrade, na prosa de Clarice Lispector ou de Jorge Amado, na deliciosa perfídia de Nelson Rodrigues. Como é possível? E o que esperar dos próximos Jogos Olímpicos? Medo. 

6.Acabou de ser publicado um grande livro de poemas. Chama-se A Dor Concreta, é de António Carlos Cortez e foi editado pela Tinta-da-China.

Fulgurante livro de um poeta sem esperança, estado a que apenas aspiram os homens que a têm guardada. Quando tanto se fala de Herberto Hélder, como se mais ninguém existisse, é importante dizer que a poesia nele não se esgota. «Este ódio ao mundo que é amor eterno» – sim, António. É isso.